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ONU afirma que situação em Tigray está "fora de controlo"

Lusa
9 de dezembro de 2020

Em declarações, esta quarta-feira (09.12), a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos Michelle Bachelet frisou ainda que não é verdade que combates na região tenham acabado, como diz o Governo etíope.

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Äthiopier Flüchten vor Kämpfen in Tigray in den Sudan
Foto: Mohamed Nureldin Abdallah/REUTERS

A situação em Tigray, Etiópia, palco de um conflito armado, "é extremamente preocupante e volátil e está a ficar fora de controlo, com um impacto terrível sobre os civis", alertou, esta quarta-feira (09.12), a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Michelle Bachelet desmentiu ainda as indicações feitas pelo Governo etíope na terça-feira à noite, segundo as quais os combates no Tigray, estado etíope no norte do país, terminaram e o conflito se resume a "disparos ocasionais", sendo a situação de segurança apenas uma "questão de polícia".  

"Na própria região do Tigray, os combates continuam - apesar de o Governo afirmar o contrário. Temos relatos de que, em particular, nas áreas em torno de cidades como Mekele, Sherero, Axum, Abiy Addi, e nas fronteiras entre as regiões de Amhara e Tigray, os combates continuam entre as forças federais e a TPLF, e milícias afiliadas de ambos os lados", afirmou Bachelet.

Violação de direitos humanos

A ONU recolheu ainda "informações corroboradas de violações e abusos graves dos direitos humanos - incluindo ataques indiscriminados contra civis e objetos civis, pilhagens, raptos e violência sexual contra mulheres e raparigas". 

"Há relatos de recrutamento forçado de jovens tigray para lutarem contra as suas próprias comunidades", revelou ainda a Alta Comissária.

Michelle Bachelet | UN Hochkommissarin für Menschenrechte
Michelle Bachelet Foto: picture-alliance/Keystone/S. Di Nolfi

Bachelet sublinhou que as limitações impostas em todas as comunicações se mantêm como "um dos principais obstáculos" e que a ONU não tem conseguido aceder às áreas mais afetadas, pelo que é "incapaz de verificar" aquelas alegações através de missões de averiguação. 

"Há uma necessidade urgente de monitorização independente da situação dos direitos humanos na região de Tigray, de todas as medidas necessárias para proteger os civis, e de responsabilização pelas violações", afirmou.

A declaração apresenta-se como uma resposta ao Governo etíope, que na terça-feira (08.12) rejeitou os pedidos internacionais no sentido de abrir o caminho a uma investigação independente sobre o conflito no Tigray, afirmando que não precisa de uma "babysitter".

"A Etiópia é dirigida por um governo forte e funcional, que sabe como dirigir a nação. Não precisa de uma 'babysitter'", afirmou aos jornalistas Redwan Hussein, porta-voz do Governo etíope, numa conferência de imprensa esta terça-feira à noite em Adis Abeba, e divulgada no Youtube.

Sem acesso, apesar de acordo

Bachelet considerou ainda a situação humanitária como "profundamente angustiante" e afirmou que, "apesar de um acordo entre o Governo e a ONU [há já uma semana], o acesso humanitário sem restrições não tem sido possível". 

"Apelo ao Governo [etíope] para que cumpra a promessa do primeiro-ministro [Abiy Ahmed] de assegurar o acesso humanitário, e de garantir o acesso à água, eletricidade e outras necessidades básicas", declarou a responsável da ONU.

Refugiados etíopes encontram amparo no Sudão

Numa aparente referência a um incidente recente em que uma missão de ajuda humanitária da ONU foi impedida a tiro de aceder a uma zona do Tigray, tendo os seus responsáveis sido detidos e entretanto libertados, Bachelet exortou o Governo etíope a "assegurar que os atores humanitários possam fazer o seu trabalho de salvamento de vidas sem medo de ataques, e a assegurar que os responsáveis por ataques contra os trabalhadores humanitários sejam responsabilizados de acordo com as leis e normas internacionais de direitos humanos e humanitárias".

As autoridades etíopes admitiram na terça-feira que as forças federais abriram fogo no domingo contra uma equipa da ONU que tentava alcançar uma zona da região de Tigray. Redwan Hussein confirmou o ataque e detenção dos funcionários das Nações Unidas, culpando-os de tentar alcançar áreas onde "não deveriam ir", ultrapassando "dois postos de controlo", antes de serem detidos quando tentavam passar um terceiro. 

Michelle Bachelet revelou ainda que "noutras partes da Etiópia, há inúmeros relatos de discriminação étnicos contra tigray, incluindo em Adis Abeba". 

"Temos relatos de despedimentos de empregos - inclusive na função pública -, assédio a jornalistas tigray, e discurso de ódio contra os tigray. Tais ações discriminatórias são profundamente injustas, mas estão também a fomentar a divisão e a lançar as sementes de uma maior instabilidade e conflito. Exorto o Governo a tomar medidas imediatas para pôr fim a tal discriminação", afirmou.

Abyi Ahmed de visita ao Quénia

Entretanto, e enquanto aumentam as preocupações com a entrega de ajuda humanitária à região de Tigray, as autoridades quenianas anunciaram, esta segunda-feira (07.12), uma visita do primeiro-ministro etíope ao país.

Esta quarta-feira (09.12), no seu primeiro dia da visita ao Quénia, Abiy Ahmed e o Presidente queniano, Uhuru Kenyatta, inauguraram um posto fronteiriço de escala única em Moyale, cidade dividida entre a Etiópia e o Quénia, para promover o comércio na região.