Exércitos europeus podem abandonar missão no Mali em breve
16 de fevereiro de 2022O Presidente francês Emmanuel Macron vai reunir-se com os aliados europeus na quarta-feira (16.02) para discutir o envolvimento militar do seu país no Mali. Funcionários do Governo francês dizem que Macron fará uma declaração definitiva sobre o assunto "pouco depois" da reunião.
Uma retirada francesa do Mali, que está a ser considerada há meses, significaria o fim da força "Takuba", orientada pela França e de que também fazem parte tropas checas e estónias. A retirada aumentaria a incerteza sobre o futuro das missões das Nações Unidas e da União Europeia (UE) no Sahel. No entanto, a França assegurou que irá coordenar o processo com a ONU e a UE no Mali e que continuará envolvida em ambas as missões.
Macron deverá anunciar que as tropas francesas, posicionadas no Mali desde 2013, serão destacadas para outros pontos da região. Por exemplo, para o Níger, que, juntamente com o Burkina Faso, tem sido alvo de ataques islamistas lançados a partir do Mali.
O assunto deverá ser discutido durante uma cimeira de dois dias em Bruxelas, na quinta e sexta-feira (18.02), com líderes europeus e da União Africana. Macron reunir-se-á também com os líderes africanos na quarta-feira.
Porque é que há tropas europeias no Mali?
A missão ocidental no Mali destinava-se inicialmente a combater os militantes jihadistas na região, mas enfraqueceu consideravelmente desde que estes se reagruparam, com a ajuda de dois golpes de Estado na antiga colónia francesa desde maio de 2020.
Atualmente, as relações entre Paris e o Governo militar no Mali, que assumiu e consolidou o poder nos golpes, foram reduzidas a um mínimo histórico.
Recentemente, a junta militar do Mali adiou indefinidamente as eleições programadas, irritando os parceiros ocidentais.
Outra fonte de controvérsia é a presença de cerca de 1.000 mercenários do grupo de segurança privado russo Wagner, que chegaram depois de os franceses terem começado a passar as bases militares para as mãos das forças malianas.
Na segunda-feira, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, afirmou: "Se já não estiverem reunidas as condições para podermos atuar no Mali, o que é claramente o caso, continuaremos a combater o terrorismo lado a lado com os países do Sahel que estão interessados nisso".
O que diz a Alemanha acerca do Mali?
Esse sentimento foi ecoado numa chamada de vídeo na terça-feira (15.02), quando a ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, disse ao seu homólogo maliano Sadio Camara que, "se as eleições forem adiadas por quatro ou cinco anos, então não há base para um novo compromisso alemão".
Além disso, Lambrecht considerou a cooperação da junta com o grupo Wagner "totalmente inaceitável". Segundo a governante, a presença de mercenários russos é contraproducente em termos de desenvolvimento sustentável, respeito pelos direitos humanos e confiança nas autoridades malianas.
A ministra da Defesa acrescentou que a ideia de soldados malianos serem treinados pela Bundeswehr alemã apenas "para trabalharem como mercenários russos é impensável".
Camara garantiu a Lambrecht que o Governo não assinara qualquer contrato com o grupo Wagner.
Cerca de 1.300 tropas alemãs estão atualmente colocadas no Mali como parte da Missão de Formação da União Europeia (EUTM) e da Missão de Estabilização Integrada Multidimensional no Mali (MINUSMA) da ONU. O fim do destacamento, cujo futuro será debatido em breve no Parlamento alemão, está previsto para 31 de maio.
Amadou Maiga, secretário parlamentar do Conselho Nacional de Transição do Mali, disse à DW que a Alemanha deveria ponderar cuidadosamente a sua decisão sobre a retirada de forças.
"O Mali tem de se reinventar, de se reformar e de ultrapassar a incerteza. A Alemanha tem estado ao lado do Mali há tempo suficiente para ajudar verdadeiramente. Penso que seria bom que a Alemanha continuasse a fazê-lo, enviando representantes para manter o diálogo", disse.
"A Alemanha deve levar o tempo necessário para decidir sobre a presença da Bundeswehr, a fim de compreender realmente o que tem de ser feito", acrescentou.
Outros exércitos da UE estão a sair do Mali?
O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros José Manuel Albares disse que qualquer decisão relativa à presença de soldados europeus teria de ser tomada a nível da UE, mas insistiu que os motivos para manter uma presença no local permanecem.
Anteriormente, a Dinamarca anunciou a retirada do seu contingente de soldados no final de janeiro, e a Noruega suspendeu um destacamento que já estava planeado.
No sábado, o ministro da Defesa da Estónia, Kalle Laanet, afirmou que "é impossível continuar sob tais condições".
Medos europeus insegurança no Mali
Os governos europeus têm criticado a junta militar do Mali, apontando para os atrasos na restauração do governo civil e para a atitude hostil que a junta tem demonstrado em relação à presença de soldados da UE, ao mesmo tempo que aprofunda os seus laços com a Rússia e acolhe mercenários da companhia Wagner.
Os líderes militares do Mali reagiram furiosamente a uma crítica de Paris, tendo mesmo expulsado o embaixador francês.
O Mali é um dos sete países africanos que foram alvo de golpes militares nos últimos 18 meses. Os líderes ocidentais temem que esta dinâmica de mudança possa robustecer grupos ligados à Al-Qaeda e ao "Estado Islâmico".
Este fim-de-semana, a França disse que as suas tropas mataram 40 insurgentes no Burkina Faso, incluindo alguns que se acredita terem estado por detrás de três ataques bombistas improvisados no norte do Benim, em que morreram nove pessoas, incluindo um cidadão francês.
Os líderes da UE lamentam o facto de o Mali não ter conseguido alocar recursos para reafirmar a autoridade sobre áreas que tinham sido desobstruídas de jihadistas pelas tropas francesas.
As Forças Armadas do país continuam enfraquecidas apesar de anos de treino europeu e, com a retirada das tropas europeias, perderão também um apoio aéreo inestimável, o que, segundo os observadores, poderá levar a problemas de segurança.