Familiares de ativistas agredidos durante marcha em Luanda
10 de agosto de 2015Durante a manhã de sábado (08.08), decorria sem constrangimentos uma marcha para apoiar o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, realizada pela Organização da Mulher Angolana (OMA), organização feminina do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). A passeata começou na Estrada Deolinda Rodrigues e terminou no Largo da Independência.
Por volta das 14:00, no local onde decorria a atividade da OMA, um grupo de pelo menos 30 cidadãos, entre os quais familiares e amigos dos 15 ativistas detidos desde junho, bem como alguns jovens revolucionários, pediam a libertação dos presos políticos. "Libertem os nossos 15", "Liberdade já" - clamavam os familiares dos jovens presos há mais de 45 dias sob a acusação de tentarem derrubar o Governo angolano.
Durante a marcha, um aparato policial acompanhava a caminhada de perto, com as mães dos jovens na primeira fila. Depois de terem chegado à Avenida Comandante Valódia, a cerca de um quilómetro de distância do Largo da Independência, os agentes da Polícia Nacional recebiam orientações de um comandante para bater nos manifestantes."Comecem a bater, espanquem", orientava um oficial da polícia angolana.
Agressões e detenções
Os manifestantes pretendiam chegar até às instalações da Procuradoria-Geral da República (PGR), mas foram impedidos pelos agentes, que soltaram cães da brigada canina.
Várias pessoas ficaram feridas. Mães de ativistas foram atacadas com porretes e até mordidas por cães. "Assim que chegamos à Rua Comandante Valódia, a polícia começou a bater nos manifestantes indefesos", contou à DW África Raúl Mandela, que dirigia a marcha.
"Estávamos a caminhar em direcção ao palácio, e de repente os homens do SINFO (Serviço de Inteligência e Segurança do Estado) agarraram-me e entregaram-me à polícia. Começaram a bater-me, pisaram-me com botas e perdi os sentidos", conta o ativista David Salei, que esteve internado no Hospital Américo Boa Vida.
Os jornalistas Rafael Marques e Coque Mukuta, da Voz da América, também foram recolhidos e libertados horas depois.
Em entrevista à DW África, Adália Chivonde, mãe de Nito Alves, um dos ativistas detidos, contou que chegou a desmaiar durante as agressões. "Os miúdos apanharam e eu desmaiei. Surgiram algumas pessoas que me ajudaram, deram-me água e foi assim que recuperei". A mãe de outro jovem que está preso também foi mordida por um cão.
Polícia nega detenção e ferimentos
Na noite de sábado, o Comando da Polícia de Luanda tornou público que, por volta das 14:30, "quando alguns jovens se divertiam pacificamente, no Largo da Independência, em alusão aos 40 anos da Independência nacional, surgiram cerca de 35 cidadãos e insurgiram-se contra aqueles, tendo resultado uma série de agressões múltiplas entre ambos".
A polícia diz ter sido chamada ao local, onde "colocou termo a tais acções que se estenderam até às imediações da Avenida Comandante Valódia, não tendo resultado em nenhuma detenção ou ferimento de cidadão", referia uma nota de imprensa do Comando da Polícia de Luanda emitido na Televisão Pública de Angola (TPA).
Por sua vez, os manifestantes negaram qualquer envolvimento com os cidadãos que festejavam no local referido pela corporação. "Em nenhum momento entramos em conflito com os militantes do MPLA", respondem. "O nosso objetivo era apenas marchar. Ninguém ofendeu, pedíamos somente a libertação dos nossos filhos".
A marcha promovida pelos familiares dos 15 ativistas não foi autorizada pelo Governo Provincial de Luanda, alegando que o protesto iria passar próximo de vários edifícios de órgãos de soberania.