Famílias africanas e a emigração clandestina
3 de dezembro de 2016Pais e chefes de família em alguns países africanos tentam forçar os seus filhos a emigrarem para a Europa. Mas,na verdade, muitas famílias ignoram os riscos e perigos da emigração clandestina, por falta de informações ou de escolaridade. Alguns pais vão ao ponto de obrigar as suas crianças a abandonarem o continente africano para, como dizem, "procurar o bem estar na Europa". O fenómeno não é novo, mas não pára de aumentar, nomeadamente na África subsaariana.
Moustapha Diop ocupa-se dos repatriados da Europa no Senegal. Em entrevista à DW África, admite que ele mesmo tentou por duas vezes a aventura, mas sem sucesso. Segundo Diop, os pais pressionam os filhos a partirem para, mais tarde, ajudarem a família que ficou no país. "É preciso que as capitais ocidentais desenvolvam uma política de créditos para financiar atividades geradoras de benefícios, nomeadamente para as mulheres. São muitas vezes essas mães que, na realidade, são chefes de família, que obrigam os seus filhos a entrarem nesta aventura muito perigosa".
Uma posição que é relativizada por Sébastien Prothmann. Durante muito tempo, investigou as aspirações migratórias dos jovens em Pikine, uma localidade considerada um dos bairros mais perigosos de Dacar, a capital senegalesa.
"É precisamente o papel da mãe que é importante nesta questão, porque, muitas vezes, é ela que diz ao seu filho 'estás a ver, o filho do nosso vizinho está em Itália e está a construir uma casa'. Como é evidente, a mãe quer que o seu filho também construa uma casa. Os jovens dizem que querem ir para a Europa para encontrar dinheiro que vai permitir às suas mães deslocarem-se um dia à Meca", explica Prothmann. E acrescenta: "A relação entre os jovens e os seus pais é muito importante. É como se se tratasse de uma dívida de gerações. Os jovens devem sacrificar-se pela família".
Os jovens querem juntar-se aos pais
Há também o papel dos pais, chefes de família, que emigram para a Europa. Na maioria dos casos, explica Sébastien Prothmann, os jovens tentam juntar-se aos seus pais em Itália ou nas ilhas Canárias, em Espanha.
Um arquipélago que só evoca más recordações para Moustapha Diouf: enfrentou o mar Mediterrâneo a bordo de uma embarcação muito frágil para tentar chegar às Canárias, antes de ter sido reenviado para o seu país, o Senegal.
"Todos sabem que o caminho da emigração é muito perigoso. Por isso, criámos uma associação para sensibilizar os jovens a ficar no país", conta Diouf. "Infelizmente, desde 2006, não recebemos nenhuma ajuda financeira por parte das autoridades. Falam de milhões de francos cfa para lutar contra a emigração, mas os pais, até hoje, não receberam nada".
Ajuda internacional e as perspetivas
"Nessas condições, como vamos conseguir convencer as famílias pobres a dizerem aos seus filhos para ficarem no país?", questiona Moustapha Diouf. É um verdadeiro dilema, considera Sébastien Prothmann.
"De um lado, os jovens não têm os meios para deixarem o seu estatuto de jovens porque estão no desemprego e isto faz com que permaneçam muito tempo no seio da família com todas as pressões sociais que isso comporta. Por outro lado, os jovens aspiram a uma maturidade social, ou seja, ter uma mulher, uma esposa e deixar a casa dos familiares. Portanto, ser responsável, no verdadeiro sentido da palavra".
Recorde-se que o Senegal faz parte dos países africanos com os quais, este ano, a Comissão Europeia propôs concluir pactos migratórios. Trata-se de conseguir, através de incentivos financeiros, que Dacar lute ainda mais contra os traficantes de seres humanos e aceite mais os imigrantes ilegais expulsos da Europa.
Para tal, infraestruturas no país já foram colocadas à disposição da Organização Internacional para as Migrações (OIM), para instalar centros de formação e de ajuda, nomeadamente nos bairros periféricos da capital senegalesa, a fim de promover o emprego e combater a pobreza no seio dos jovens.