Estado da nação moçambicana "é desafiante, mas encorajador"
20 de dezembro de 2017O estado geral da nação "é desafiante, mas encorajador". Foi assim que o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, classificou a situação em que se encontra o país.
No seu tradicional informe à nação, o Presidente Filipe Nyusi destacou esta quarta-feira (20.12.) os esforços do Governo para a pacificação de Moçambique. Segundo ele a paz e a democracia no país devem contar com o contributo de todos os moçambicanos.
"Os desafios são enormes e não se colocam apenas ao Governo mas a cada um nós. A preservação da paz, a democracia e o desenvolvimento económico dependem do contributo de cada cidadão."
Trégua desde dezembro de 2016No discurso de quase duas horas, Filipe Nyusi realçou como um dos principais ganhos em 2017 o cumprimento da trégua que vigora desde dezembro de 2016 nos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas e o braço armado da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido da oposição.
Para Nyusi, "Moçambique vive hoje um clima de estabilidade, pois conseguimos devolver o sossego, a paz e a harmonia à família moçambicana". Num futuro próximo, prosseguiu Filipe Nyusi, os moçambicanos irão testemunhar consensos duradouros nas negociações entre o Governo e a RENAMO, visando a harmonia e a paz efetiva e definitiva.
O Presidente moçambicano salientou ainda que as duas partes estão a negociar um pacote legislativo sobre a descentralização do país, a ser submetido à Assembleia da República, e a desmobilização do braço armado da RENAMO e sua integração nas FDS.
Estabilização da economia
O Chefe de Estado moçambicano, que é também chefe do Governo, congratulou-se com o facto de, em 2017, o executivo ter conseguido estabilizar a economia, depois de em 2016 o Produto Interno Bruto (PIB) ter registado o crescimento mais baixo dos últimos 10 anos, com uma taxa de 3,8%."A retomada da estabilidade macroeconómica era uma premissa fundamental para conferir uma maior previsibilidade e confiança aos agentes económicos e para a retoma do IDE", frisou Filipe Nyusi.
Apesar das restrições orçamentais devido à fragilidade da economia, Filipe Nyusi disse que o executivo manteve a aposta no investimento social e com impacto no combate à pobreza, canalizando recursos para a saúde, educação, agricultura, energia e infraestruturas.
"Os moçambicanos mostraram que são resilientes, apesar de tudo, não desistem, enfrentam as adversidades", frisou, Filipe Nyusi, muitas vezes aplaudido pela bancada da FRELIMO, partido no poder.
"Medíocre e superficial"
O discurso do Presidente Filipe Nyusi no Parlamento moçambicano não convenceu as bancadas da oposição.
A RENAMO, principal partido da oposição em Moçambique, e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, consideraram "medíocre e superficial" a informação anual do chefe de Estado sobre o estado da nação.
A RENAMO por exemplo refere que ficou muito por dizer, pois o país está a passar por várias dificuldades.José Lopes porta-voz da RENAMO, disse à imprensa que "esperávamos que ele trouxesse mais informações sobre a paz, quando é que ela é definitiva, e não falar de tréguas. Gostaríamos também que fosse anunciado quando é que vão ser responsabilizados os tubarões do crime organizado e os autores das dívidas ocultas."
Por seu turno, Fernando Bismarque, porta-voz do MDM disse aos jornalistas que "o próprio Presidente quando diz que é desafiador e é encorajador remete-nos a uma ideia de muita preocupação. É como se estivéssemos no alto mar, numa canoa que naufragou e estamos à espera de socorro... mas não temos a certeza que iremos ser salvos".
Já a FRELIMO apreciou de forma positiva a situação geral do estado da nação. Para o seu porta-voz, Edmundo Galiza Matos Júnior, a apreciação positiva que faz fica a dever-se às realizações do Governo este ano quando na realidade o país vive um cenário económico difícil. "Efetivamente foi um ano desafiante e encorajador. Tivemos diversas ações governativas que proporcionaram melhores condições de vida aos moçambicanos, com inaugurações e lançamento de infraestruturas sociais e económicas..."
Recorde-se, que o Centro de Integridade Pública de Moçambique (CIP) classificou na terça-feira (19.12.) como um défice democrático o facto de o Presidente da República não ser sujeito a perguntas em relação à informação que presta sobre o estado da nação no Parlamento.