Nyusi diz que RENAMO ameaça ideais de Samora
19 de outubro de 2016A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) está a ameaçar a paz por que lutou Samora Machel. Esta foi a declaração do Presidente moçambicano Filipe Nyusi, em Maputo, durante a cerimónia em memória do primeiro chefe de Estado do país, falecido a 19 de outubro de 1986 num acidente aéreo na África do Sul.
Nyusi fez um apelo ao principal partido da oposição moçambicana, pedindo que o partido siga o exemplo de Machel e lute pela paz. "Queremos aproveitar esta ocasião para apelar à RENAMO para que, tal como no passado, mostremos que não há barreiras intransponíveis quando colocamos os interesses do povo moçambicano acima de tudo. Essa foi a lição de Samora", disse Filipe Nyusi, na praça dos Heróis, onde está sepultado o primeiro Presidente de Moçambique.
"A paz por que tanto lutou Machel está ameaçada pelas ações da RENAMO", disse Nyusi, acrescentando que "uma paz total e definitiva" será uma vitória sem dono, "porque pertencerá a todos por igual".
"Justiça ainda deve ser feita"
Aos familiares das vítimas da tragédia de Mbuzini, localidade na África do Sul onde se despenhou o avião presidencial, matando Machel e outras 34 pessoas da sua comitiva, Nyusi disse partilhar uma dor que se agudiza por a verdade nunca ter sido esclarecida.
"A justiça ainda deve ser feita, um direito que vos assiste como parentes dos mártires de Mbuzini e que assiste igualmente a todo o povo moçambicano", declarou, numa alusão às investigações inconclusivas da queda da aeronave Tupolev 134 em que viajava Machel e que as autoridades moçambicanas atribuem ao antigo regime do "apartheid".
O Preseidente da República lembrou ainda o empenho do primeiro de Samora Machel nas lutas dos países vizinhos contra "a dominação estrangeira e regimes ditatoriais", quando Moçambique enfrentava uma situação económica difícil e dava os primeiros passos para se afastar da herança colonial, referindo-se ao "apartheid" e à "desumanidade de um racismo convertido em política de Estado" e ao regime "ilegal e minoritário" da Rodésia de Ian Smith, atual Zimbabué.
Paz em Moçambique
A viúva de Samora Machel, Graça Machel, também participou na cerimónia em Maputo e afirmou que o fim do conflitos militares no país seria uma forma de honrar a memória do primeiro Presidente de Moçambique.
Graça Machel também apontou a luta contra o tribalismo e o nepotismo e a entrega ao trabalho e à educação como formas de honrar a memória de Samora Machel.
"Em solidariedade com todas as viúvas e mães deste país queremos dizer: calem as amas de uma vez por todas, acabe o conflito neste país", disse Graça Machel.
As mães e viúvas das vítimas da tragédia de Mbuzini, prosseguiu Graça Machel, sentiram a dor da perda dos seus familiares e não desejam esse sentimento a outros moçambicanos, que estão sob ameaça da violência militar no centro e norte do país.
"Nós sabemos e vivemos com essa dor e não queremos mais ninguém, dia após dia, a viver aquilo que nós vivemos. Os nossos netos não sabem o que é o colo dos seus avós. Isto tem de acabar, esta família moçambicana tem de saber abraçar-se", afirmou.
Ideais de Samora Machel
Em memória do primeiro chefe de Estado de Moçambique, o ex-presidente moçambicano Armando Guebuza disse à imprensa que os moçambicanos devem inspirar-se nos ideais do primeiro de Samora Machel para ultrapassar a difícil conjuntura que o país atravessa.
"Os ideais dele [Samora Machel] devem permanecer como instrumento para fazer face aos desafios que temos", considerou Guebuza, chefe de Estado durante dez anos até janeiro de 2015.
Segundo Armando Guebuza, os fundamentos que orientaram o primeiro Presidente de Moçambique permanecem úteis para o país. "As ideias são como uma linha que nos ajuda a encontrar o itinerário que temos de percorrer".