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Fome de madeira chinesa mata florestas moçambicanas

29 de novembro de 2012

O "apetite voraz" da China por madeira, aliado à corrupção e a má aplicação das leis em Moçambique, poderá levar o país a perder toda a sua madeira nobre em cinco anos, alerta um relatório divulgado esta quinta-feira.

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Foto: DW/J. Beck

Um relatório da Agência de Investigação Ambiental (EIA) , uma organização não-governamental, publicado nesta quinta-feira, 29 de Novembro, disseca o comércio ilícito global de madeiras, alimentado pela crescente procura da China. Chris Moye, um dos autores do documento, explica que a agência enviou para Moçambique investigadores disfarçados de compradores e que descobriu "o suposto envolvimento do antigo ministro da Agricultura e do atual ministro da Agricultura José Pacheco".

À guisa de conclusão desta investigação, o extenso capítulo do documento dedicado à situação em Moçambique, começa logo por mencionar o fracasso crónico da gestão desta matéria-prima em Moçambique, a falta de aplicação das leis em vigor e a corrupção.

Suborno é coisa fácil em Moçambique

Num pequeno filme que a EIA coloca à disposição no seu site na internet, foram filmandos, com câmara oculta, vários empresários chineses em Moçambique, que se vangloriam dos seus bons contactos com políticos e deputados, que lhes facilitam as actvidades clandestinas. Além disso mencionam como é simples subornar as autoridades, por exemplo, nas alfandegas, para expeditar o contrabando.

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Camião com madeira moçambicanaFoto: DW/J. Beck

O potencial de receitas da madeira tropical num país com uma área de 41 milhões de hectares de floresta, o equivalente a metade da superfície territorial, é enorme, se for bem gerido e explorado de forma sustentável. Em Moçambique vigoram leis imprescindíveis para garantir que as receitas revertam a favor da população. Infelizmente, diz o investigador Chris Moye, elas não são implementadas. "No ano de 2011 foram licenciados para abate de madeira 270 825 metros cúbicos. Nós estimamos que só o comércio de madeira para a China necessita mais de 600 mil metros cúbicos de madeira por ano. Quer dizer que existem mais de 300 mil metros cúbicos a ser abatidos ilegalmente em Moçambique".

Danos irreversíveis para o meio ambiente

Os exportadores estão em contravenção também de outras leis do país. Assim Moçambique pretende que uma parte elevada da madeira exportada seja processada e que não saia do país em estado bruto, o que também "não está a acontecer", sustenta Chris Moye.

Titel: Aufforstung mit Kiefern Schlagworte: Mosambik, Holz, Abholzung, Entwaldung, Holzexporte, Forst, Kiefer Ort: Provinz Niassa, Mosambik Fotograf: Johannes Beck / DW Datum: 14.11.2012 Beschreibung: Forst mit schnellwachsenden Kiefern in der Provinz Niassa (Nordmosambik). Nachdem in Mosambik viele ursprüngliche Wälder abgeholzt wurden, setzt die Regierung nun auf Aufforstung mit schnellwachsenden Bäumen wie Kiefern und Eukalyptus. Diese Plantage liegt zwischen den Städten Lichinga und Metangula in der Provinz Niassa, ca. 30 Kilometer Luftlinie östlich des Malawi-Sees entfernt.
O comércio desenfreado de madeira está a destruir a floresta moçambicanaFoto: DW/J. Beck

Finalmente, o abate ilegal e descontrolado de árvores prejudica também o meio-ambiente. Não só pelo aumento global do dióxido de carbono na atmosfera que já não é absorvido pelas árvores, mas porque as florestas regulam o clima local e nutrem os solos dos quais depende a sobrevivência directa de grande parte da população.

Alertada com a situação em Moçambique, a Agência de Investigação Ambiental prepara um relatório especificamente dedicado a Moçambique, que incluirá uma série de recomendações para o Governo de Maputo. "O governo moçambicano e o governo chinês deveriam fazer uma investigação profunda às discrepâncias de metros cúbicos relatadas por cada autoridade e também às discrepâncias entre os valores da madeira exportada e importada. Derivada dessa investigação deveria ser aplicada algum tipo de regulação sobre esse comércio que está depredando as florestas de Moçambique".

Autora: Cristina Krippahl
Edição: Helena Ferro de Gouveia/ António Rocha

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