Fotógrafo Sebastião Salgado recebe Prémio da Paz alemão
20 de outubro de 2019O fotógrafo Sebastião Salgado foi agraciado com um dos prémios literários mais importantes da Alemanha na Feira do Livro de Frankfurt e recebe neste domingo o Prémio da Paz do Comércio Livreiro Alemão por seu extenso trabalho, que também inclui passagens por Angola e Moçambique.
Os contatos iniciais de Sebastião Salgado com a África começaram ainda no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, logo após ter se graduado em economia em Paris. Ainda como economista, conheceu o Marrocos e o Ruanda e, mais tarde, ao se tornar fotógrafo, Salgado seguiu viajando para a África, onde esteve em Angola e Moçambique.
Com imagens de Moçambique, o fotógrafo publicou "Migrações", um livro de foto-reportagem sobre o drama das populações deslocadas. Em "Retratos de Crianças do Êxodo" (2000) Sebastião Salgado também reuniu fotografias feitas em Moçambique, na década de 1990, de crianças perdidas das famílias durante a guerra.
Salgado já fotografou garimpeiros no Brasil, pessoas famintas no Níger e refugiados de guerra no Congo. Se, no passado, as suas fotografias podiam ser classificadas pela abordagem social, hoje, o também fotojornalista está comprometido com a preservação da natureza. E ambos temas levaram o júri a conceder-lhe o prémio de 25.000 euros, concedido anualmente no contexto da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha.
Fotógrafo por acaso
Mas muitas coisas surpreendem à respeito do atual vencedor. De facto, ele é um economista que, durante uma viagem de negócios em África, começou, por acaso, a fotografar. Um fotógrado que definitivamente impressiona pelo que regista, e como o faz com a sua câmera.
A perspetiva documental sobre o mundo e seus habitantes valeu-lhe reconhecimento precoce. Em 1973, tornou-se fotojornalista e partiu em viagens de reportagens fotográficas. Em 1974, trabalhou na agência fotográfica Sygma, percorreu Portugal, Angola e Moçambique. Em seguida, ele se mudou para a agência Gamma, e fazia reportagens desde a África, Europa e América Latina. Em 1979, Salgado foi admitido na prestigiada agência Magnum.
Seu trabalho destaca-se pelas opulentas fotografias em preto e branco. Nos projetos de longo prazo, visava a vida das pessoas socialmente vulneráveis, especialmente nos países em desenvolvimento. Foi assim que, na década de 80, iniciou o projeto "Trabalhadores". Viajou por diversos países para documentar os diversos tipos de trabalho, muitas vezes duros e penosos. Isso resultou em belos livros ilustrados e impressionantes exposições.
Fotografias em preto e branco
Famosa também é sua reportagem fotográfica de 1986 sobre garimpeiros na mina de ouro brasileira Serra Pelada, cujas condições de trabalho assemelhavam-se à idade média. Para a revista New York Times Magazine, Salgado fotografou, em abril de 1991, na segunda Guerra do Golfo, as tropas de Saddam Hussein a atearam fogo em poços de petróleo.
Por muitos de seus trabalhos, Salgado foi homenageado com prémios. Ele agora é membro da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos e, desde 2016, da Academia de Belas-Artes de Paris. Em 2014, o diretor de cinema alemão Wim Wenders filmou o documentário "O Sal da Terra" - uma homenagem ao renomado fotógrafo.
É verdade, entretanto, que o fotógrafo brasileiro também é alvo de críticas. Para alguns fotógrafos e especialistas em cultura, Salgado "encena em belas imagens" questões como a destruição ambiental e exploração. Segundo a professora de fotografia documental alemã Elisabeth Neudörfl, em entrevista ao veículo Deutschlandfunk, "a visão de mundo de Salgado é 'retrógrada'", pois "ele fotografa pinguins com a mesma estética que trabalhadores mineiros".
Laureado rebate às críticas
Mas o laureado rebate às críticas, com o argumento de "que não existem apenas pessoas neste planeta", disse recentemente em uma entrevista à agência dpa. "Antes, eu só fotografava pessoas mas depois descobri as formigas, os pássaros, os macacos, os crocodilos. E todos eles são tão importantes para o planeta. Todos são importantes, e não apenas a minha espécie".
Com sua esposa, Lélia Deluiz, Sebastião Salgado tem dois filhos, já adultos. Ela é arquiteta, publica a maioria de seus livros e é curadora de suas exposições. Na Alemanha, as fotografias de Salgado foram vistas pela última vez no Kulturforum C / O Berlin. O trabalho "Gênesis", uma homenagem visual ao planeta, mostra paisagens vulcânicas, massas de gelo árticas, desfiladeiros de rios, montanhas cobertas de névoa, florestas tropicais intocadas e dunas infinitas de areia.
No ano passado, o Prémio da Paz do Comércio Livreiro Alemão foi entregue aos cientistas culturais alemães Aleida e Jan Assmann. Os vencedores incluem autores como Margaret Atwood, Susan Sontag, David Grossmann, Navid Kermani, Jaron Lanier e Carolin Emcke, além do artista Anselm Kiefer.