Governador de Benguela: "Não podemos só falar das vitórias"
12 de abril de 2017São declarações inéditas: Isaac Maria dos Anjos, membro do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), apelou aos militantes e à direção do seu partido para que não se recorra aos argumentos da guerra para justificar os fracassos da governação. "Não vale a pena escamotear mais e nos guerreamos com os argumentos do passado", disse o também governador da província de Benguela.
"Sofremos uma grande pressão internacional e nacional para mudarmos. Foi uma guerra longa e essa guerra também foi uma guerra civil. E, por ter sido civil, fica difícil [dizer] quem participou no bem, quem participou no mal. Levámos muito tempo a negociar a paz. Foram anos sucessivos, mas conseguimos agora ter 15 anos de paz", acrescentou.
A paz alcançada deve ser preservada a qualquer custo, sem necessidade de se olhar para o fantasma do passado, sublinhou Isaac Maria dos Anjos.
"Temos que prestar contas ao povo"
Num discurso no fim-de-semana dirigido essencialmente aos militantes do seu partido, o governador de Benguela desafiou igualmente os dirigentes do MPLA a darem a cara pelos erros cometidos nos últimos cinco anos de governação.
"Temos que prestar contas ao povo", afirmou. "Não podemos chegar aqui e só falar das vitórias. Temos que falar também dos nossos fracassos - não pode ser a nossa oposição a ter o começo. Eu próprio tenho que dar a cara. Mas não vou fazê-lo sozinho, os diretores que estiveram a ganhar salários comigo têm que vir."
O político salientou que o país se faz com homens que não têm medo e vergonha das suas ações.
Alberto Ngalanela, deputado e membro da comissão política do maior partido na oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), vê nas declarações do governador de Benguela um sinal de que o "patriotismo" se começa a sobrepor às disputas entre partidos.
"Hoje em dia, a consciência dos cidadãos está acima de querelas partidárias, daí o surgimento de vozes dentro do MPLA que já não permitem justificar coisas mal feitas com a explicação da guerra", disse Ngalanela em entrevista à DW África.