Governante angolano implica Koumba Yalá no golpe na Guiné-Bissau
25 de abril de 2012No debate realizado esta terça-feira (24.04) no Parlamento angolano, em Luanda, para a votação de uma resolução sobre a Guiné-Bissau, o general “Kianda” acusou o antigo chefe de Estado guineense e atual candidato presidencial Koumba Yalá de ter manobrado os militares guineenses para protagonizarem o golpe de Estado.
“A preparação do golpe de Estado começou a partir da morte do ex-presidente Malam Bacai Sanhá”, declarou Salvino Sequeira, argumentando que foi nessa ocasião que Yalá chegou a Bissau, proveniente do estrangeiro.
Segundo o general, o candidato Koumba Yalá também terá dado dinheiro ao chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general António Indjai, a quem se teria dirigido depois de ter apresentado condolências à família de Bacai Sanhá. Salvino Sequeira lembrou ainda que a mulher de Koumba Ialá é tia de António Indjai.
Ex-guerrilheiros nas Forças Armadas
O vice-ministro da Defesa salientou também que as Forças Armadas guineenses - que têm um efetivo de 4 mil homens - são maioritariamente formadas por antigos guerrilheiros. “Daqui podemos ver por que é que os golpes de estado na Guiné-Bissau vêm sucedendo uns atrás de outros”, sublinhou na sua intervenção perante os deputados angolanos.
Quanto à alegação feita por deputados da oposição acerca do excessivo material bélico levado pelo contingente militar angolano para Bissau para a reforma dos setores de defesa e segurança, Salvino Sequeira respondeu que “as forças da Guiné-Bissau não podem ser formadas com paus ou brinquedos” e que, para isso, era necessário armamento, técnicas de combate e técnicas de fogo.
Angola mantém estacionados na Guiné-Bissau 232 militares e 38 polícias. Por isso, o governante angolano diz não ter fundamento que estes 270 efetivos representem uma ameaça à estabilidade guineense.
CEDEAO deixa Bissau sem acordo com militares
A missão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), deixou a Guiné-Bissau na noite de terça-feira (24.04) sem fechar um acordo com os militares responsáveis pelo golpe de Estado e que detiveram o ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e o presidente interino da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira.
Foi precisamente a libertação dos dirigentes destituídos que terá feito com que as negociações entre o autodenominado Comando Militar da Guiné-Bissau e a CEDEAO fracassassem, disse uma fonte citada pela agência noticiosa France Presse. Também o retorno à ordem constitucional anterior ao golpe foi descartada pelo Comando Militar, disse a mesma fonte, que não se identificou.
Por outro lado, os militares terão pedido “tempo para refletir”, enquanto esperam as conclusões de um chamado “fórum de concertação” reunido por iniciativa do Comando Militar e que também é integrado por partidos políticos, representantes da sociedade civil e autoridades religiosas.
União Africana em sintonia com CEDEAO
O golpe na Guiné-Bissau também foi tema de debate na terça-feira, na sede da União Africana (UA), em Adis Abeba, onde o Conselho de Paz e Segurança do órgão esteve reunido. Após o encontro, o porta-voz da UA, Nourredine Meznie, disse à DW África que o órgão pan-africano “rejeita firmemente” a proposta de divisão de poder entre militares e civis, que considera “nula”.
Meznie acrescentou que a UA também reforça as decisões da CEDEAO, nomeadamente a do início de uma ação de estabilização na Guiné-Bissau. Uma cimeira extraordinária da CEDEAO deverá ser realizada esta quinta-feira (26.04) em Abidjan, na Costa do Marfim, para discutir precisamente a crise na Guiné-Bissau.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia (UE) também já ameaçaram os golpistas guineenses e os seus apoiantes com sanções. Na terça-feira, em Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, disse que a declaração do Conselho de Segurança da ONU sobre a Guiné-Bissau, na semana passada, deve servir de guia de ação para a comunidade internacional.
Autora: Madalena Sampaio (com agência Lusa)
Edição: Renate Krieger