“Governo de Moçambique e RENAMO comprometidos com o diálogo
23 de janeiro de 2015
Os mediadores nacionais nas negociações entre o Governo de Moçambique e a RENAMO, Dom Dinis Sengulane, Bispo emérito da Igreja Anglicana de Moçambique e o Padre Filipe Couto, já se reuniram com as partes.
Depois de um encontro na véspera com o novo Presidente Filipe Nyusi e o ex-Presidente Armando Guebuza, na quinta-feira (22.01) foi a vez dos mediadores se encontrarem com o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que se encontra na cidade de Quelimane, província da Zambézia.
A RENAMO quer dialogar sobre um Governo de gestão, do qual faria parte, mas o Governo recusa-se. Afonso Dhlakama insiste, há algum tempo, na criação desse Governo de gestão, envolvendo os partidos de oposição, como forma de ultrapassar o que considera ter sido uma fraude nas eleições gerais de 15 de outubro. Recorde-se que tanto o Governo como o elenco de governadores provinciais não contemplam qualquer figura da oposição.
A DW África entrevistou Dom Dinis Sengulane que destaca o comprometimento de ambos os lados com o diálogo:
DW África: Existe realmente interesse num diálogo?
Dom Dinis Sengulane (DS): Notamos que há, de facto, um espírito de diálogo. Não vimos nenhuma culpa seja de quem for. Ambos os lados estão comprometidos com o diálogo.
DW África: E notou algum empecilho neste processo para o diálogo?
DS: Fomos lá (Quelimane) para apresentar as nossas preocupações concernentes por exemplo à lentidão do diálogo, algo que nos preocupa muito e tentamos ver qual seria a melhor maneira para desbloquearmos esse diálogo que conduza a um entendimento final. Essa foi a agenda comum para com as partes com quem falamos.
DW África: E já colocaram na mesa uma eventual data para o início deste diálogo?
DS: Não, nada foi decidido ainda.
DW África: Comparativamente à tensão que se viveu antes das eleições gerais de outubro do ano transato, como carateriza o atual momento?
DS: Pensamos que este é o momento propício para o diálogo. E há um compromisso de ambos os lados para que esse diálogo prossiga. Portanto não há que olhar para trás e se o fizermos é apenas para aprendermos algumas lições, mas não no sentido de recuar.
DW África: O Governo da FRELIMO diz que as negociações sobre um governo de gestão são logo à partida descartadas, uma vez que tal iniciativa seria inconstitucional e anti-democrático. Na sua opinião esses temas devem ser discutidos uma vez que constituem preocupações para a RENAMO?
DS: Qualquer inquietação deve ser colocada na mesa do diálogo porque existem condições para as pessoas apresentarem as suas preocupações. E é na mesa do diálogo onde poderão ser encaradas essas preocupações. Portanto há espaço para tudo.
DW África: E quanto a um possível retorno ao conflito armado, sentiu nas duas partes que esta situação nunca mais irá repetir-se?
DS: Está fora de hipótese o regresso à guerra. Ambos os lados declararam tanto em público como em privado que o retorno à guerra está fora de questão. O acordo assinado no dia cinco de setembro é levado muito a sério e é para ser honrado.
Plataforma de diálogo existe há dois anos
Governo e RENAMO mantêm há dois anos uma plataforma de diálogo, que culminou num acordo de paz, assinado a 05 de setembro de 2014, por Guebuza e Dhlakama e prosseguem as negociações desde então, mas as partes não alcançaram ainda o entendimento sobre o desarmamento do maior partido de oposição.
Há duas semanas, Dhlakama ameaçou criar uma república autónoma no centro e norte de Moçambique, presidida por ele próprio, caso a FRELIMO persista em não acatar a sua exigência de um governo de gestão.