Grande abertura, poucos resultados - O "boom" da jatropha em Moçambique
2 de março de 2011Em todo o mundo, governos, organizações internacionais e institutos de pesquisa depositaram a sua fé no futuro glorioso dos biocombustíveis. A jatropha,por exemplo, poderia resolver a crise de energia em Moçambique, disse o presidente Armando Guebuza.
Dadas as expetativas criadas há mais ou menos cinco anos, atualmente já deveria ser possível avistar em todo Moçambique de Maputo no sul a Niassa no norte plantações de jatropha. Mas a realidade é outra: a planta, originalmente da América Central, secou antes mesmo que pudesse florescer.
A jatropha, conhecida igualmente como pinhão manso, purgueira ou pinha de purga, também não trouxe os resultados esperados para a empresa alemã Elaion. A empresa iniciou um projeto de jatropha em 2006, nas proximidades da cidade da Beira, com uma plantação de mil hectares. Alexander von Gablenz , é o responsável pelo projeto da Elaion em Moçambique e diz que a jatropha não trouxe resultados economicamente satisfatórios para a sua empresa. Alexander von Gablenz explica que nessa região, preparar a terra da maneira que pretendem é demasiado trabalhoso, ele acrescenta: "As plantas sufocam muito rapidamente. Além disso, o rendimento não é certo. Em 2010, por exemplo, numa área de 50 hectares, não houve nenhuma florescência."
Não compensa o investimento
Para o responsável pelo projeto da Elaion ficou imediatamente claro que a plantação não vale à pena: "O problema com a jatropha é o tempo antecedente. Não é como a palmeira, que depois de anos de espera dá muitos frutos. Com a jatropha, o rendimento não é assim tão alto", segundo von Gablenz também noutras plantações é assim: as plantas que vingam não são nem a metade, ou um quarto, da vegetação esperada.
A planta que tem de 2 a 6 metros de altura foi durante muitos anos vista como revolucionária. Teóricamente a planta é ideal para regiões secas afetadas pela erosão, podendo ser cultivada também em terras marginais. Além do que a planta não seria sensível a doenças e pragas, bem como não necessitaria de irrigação. Estes pelo menos foram os argumentos usados pelo apoiante do cultivo da jatropha. Mas tudo não passa de um mito, disse Tomás Selemane, que analisou em 2009 plantações desta espécie botânica para a organização ambiental moçambicana Amigos da Floresta. Para ele, a produção que até agora existe, dá para mostrar que a jatropha é uma planta que tal como outras, o tabaco e o algodão, precisam de ser cuidadas, precisam de irrigação, são atacadas por pestes. E precisam de uma manutenção regular como qualquer outro produto agrícola. Entretanto, este esforço aumenta os custos. Diversos pequenos agricultores moçambicanos abriram mão da plantação de jatropha. Mas não é só isso. Também grandes projetos industriais estagnaram ou foram interrompidos por completo. Houve grupos que nem começaram.
Mudança de planos
Dos 438 mil hectares reservados em Moçambique para a plantação de jatropha, em 2009 foram cultivados apenas pouco menos de 10 mil hectares, portanto menos que 3%. Esta foi uma constatação de um estudo feito em conjunto pela União Nacional dos Camponeses de Moçambique e pela organização ambiental internacional Friends of the Earth. O milagre da jatropha em Moçambique não aconteceu. Alexander von Gablenz acha que é preciso mudar a estratégia do cultivo da jatropha e sugere cultiva-la em forma de “cerca viva” em volta das machambas – as plantações dos camponeses. O responsável acrescenta: "A renda com a jatropha seria então um extra, caso venha a ser plantada à volta dos campos. Como monocultura, a jatropha não seria viável economicamente neste momento"
A própria Elaion demitiu a metade dos seus 50 funcionários moçambicanos. O restante, ocupa-se com a plantação de árvores do espaço da Elaion no centro de Moçambique, já que a jatropha ficou em segundo plano. O foco está na plantação de eucaliptos, bem como madeiras nobres como teak e as espécies locais: panga-panga, umbila e chanfuta. A intenção, no futuro, é lucrar com a exportação destas madeiras tropicais.
Autor: Johannes Beck
Revisão: Nádia Issufo/António Rocha