Guiné-Bissau: Polémica na eleição da federação de futebol
11 de agosto de 2020Mais um diferendo eleitoral na Guiné-Bissau? O país vive uma situação bastante complexa no que concerne a transição de poder. A cíclica crise política reinante no país parece atingir com gravidade a federação de futebol, que está debaixo de fogo devido a polémica instalada com a realização da eleição.
Tal como nas últimas eleições presidenciais, ainda com um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça, a eleição de Fernando Tavares como novo presidente da federação é mais um caso que deverá ir à barra da justiça.
Após o comité executivo da federação ter revelado que a nova data das eleições será fixada apenas em novembro, representantes de clubes reuniram-se, à revelia da comissão eleitoral, no sábado, dia 8 de agosto, e elegeram o empresário Fernando Tavares (Bené) como novo presidente do organismo que gere o futebol guineense.
"Não há dois presidentes da federação. Há um presidente cessante. O que aconteceu foi uma brincadeira de mau gosto de um grupo de pessoas que entendeu que deve fazer um congresso em nome da federação, que nem a federação sabe e se quer foi informada. Portanto, aquilo para nós não é nada. Não tiveram quórum e fizeram de tudo para tentar fazer que fosse um congresso normal, mas não é", reagia à DW África um dos vice-presidentes da federação de futebol guineense, Mamasaliu Baldé (Mister Baldé).
Novo presidente prepara posse
Por seu lado, o presidente eleito, Fernando Tavares (Bené), diz que está a preparar a sua posse para exercer com toda a legitimidade a sua presidência.
"O ato foi perfeitamente legal. Não foi feito por equipas de Inglaterra ou da Alemanha. O ato foi feito em presença dos clubes locais da Guiné-Bissau e que no passado elegeram o comité executivo cessante da federação. São os mesmos clubes, com toda a legitimidade, que me elegeram e vou rigorosamente cumprir o mandato para o qual fui escolhido", declarou Bené à DW.
Os associados da federação de futebol da Guiné-Bissau, clubes da primeira e segunda divisão, mais as associações de árbitros, jogadores, jornalistas desportivos, medicina desportiva e treinadores, estão profundamente divididos quanto à data da realização de novas eleições na instituição.
O responsável da federação acredita que todo este imbróglio em torno da família desportiva tenha mão de políticos, que estão a interferir no futebol. Mister Baldé, membro do atual comité executivo cessante, apela diálogo entre os clubes para salvar o desporto nacional.
"Temos provas da intervenção de políticos nesta situação. Para nós, isso não diz muito porque já sabemos que a Guiné-Bissau é um país politizado de A-Z. Estamos a fazer de tudo para que essa intervenção não tenha efeito a nível de todas as pessoas que estão a volta do futebol", disse um dos vice-presidentes da FFGB.
Tudo é jogo político?
Bené nega que tenha apoio de políticos no decurso da sua eleição, que está a ser contestada. "De outro lado, podia-se referir ao presidente cessante que é um político e deputado da nação, mas eu não quero comentar sobre a partidarização de nenhum candidato. Mas eu digo de viva voz: não sou apadrinhado por nenhum partido político e muito menos uma pessoa ligada a política".
O agora presidente eleito minimiza o facto de alguns clubes estarem a demarcar-se da sua eleição, alegando que não autorizaram os delgados que foram ao congresso. Bené diz estar disposto ir provar em qualquer tribunal que a sua eleição foi legítima.
Tavares concorreu com mais quatro dirigentes de futebol guineense. Os candidatos estavam contra a decisão de adiar as eleições por considerarem tratar-se de uma "manobra" para não realizar a votação.
A eleição para escolha do novo presidente da federação estava agendada para o dia 25 de julho, mas foi adiada no próprio dia por falta de condições na sala onde o ato deveria ter lugar. Alguns clubes apontavam 8 de agosto como nova data para a eleição, mas a federação diz que a mesma só será definida a 7 de novembro, durante um congresso extraordinário.
A profunda crise agudizou-se com a suspensão pela FIFA do presidente cessante, Manuel Nascimento Lopes, por dez anos, um dia antes da data prevista para eleição. Têm assento e direito a voto na federação 46 associados, entre clubes e associações.