Guiné-Bissau: Crise de combustível faz cair poder de compra
21 de abril de 2022É uma crise sem precedentes no setor dos combustíveis da Guiné-Bissau. Muitos condutores de transportes públicos e particulares dizem estar à beira do desespero. São obrigados a enfrentar longas filas nas gasolineiras e nem sempre conseguem combustível.
"Estou aqui desde as 07h30 da manhã, mas há muita dificuldade para conseguir o combustível", contou um condutor à DW África em Bissau. "Não estão a vender, estão parados."
Outra cidadã guineense disse que teve de deixar o carro estacionado perto de casa: "Estamos na fila desde as cinco horas da madrugada e até agora não conseguimos combustível."
Preços altos, segurança baixa
Quando funcionam, as bombas de combustível requisitam a Polícia de Ordem Pública para garantir a segurança, devido à multidão que todos os dias "invade" esses lugares na esperança de conseguir o produto.
Em consequência da crise que já dura há duas semanas, vários postos de abastecimento foram obrigados a fechar. E aqueles que funcionam estão a vender o que tinham em reserva.
Devido à carência, um litro de gasolina que antes custava o equivalente a um euro e seis cêntimos é comprado agora a um euro e 15 cêntimos.
Queda no poder de compra
O economista Santos Fernandes alerta para os danos que a crise pode causar à economia guineense.
"O impacto do aumento do preço do petróleo no mercado internacional vai sentir-se de imediato, uma vez que a Guiné-Bissau não é um país produtor, nem de petróleo, nem de produtos alimentares."
Por ser altamente dependente, o país está bastante exposto a choques externos, como a alta dos preços do combustível causada pela guerra na Ucrânia.
"O aumento do preço do petróleo no mercado internacional costuma criar impactos até a nível de transportes e de comércio internacional", explica Santos Fernandes, "e esses fatores vão impactar o poder de compra".
Em busca de soluções
A crise do combustível tem-se aliado à subida de preços de bens essenciais no mercado.
"Há, de facto, o risco de o preço dos bens de primeira necessidade e do combustível aumentar. Prevê-se que, em 2023, poderá afetar o crescimento [económico]", admitiu o ministro das Finanças, João Fadiá.
O governante anunciou medidas para tentar resolver a situação. Isso "terá o seu custo, naturalmente. O Estado poderá diminuir as imposições fiscais sobre os produtos e prestar apoios à população", afirmou Fadiá.
Também o primeiro-ministro, Nuno Nabiam, garantiu, esta quarta-feira (20.04), à saída de uma audiência com o líder do Parlamento, que navios de combustível estão a caminho de Bissau para acabar com os estrangulamentos no abastecimento.
Mas Santos Fernandes acredita que a resolução do problema não depende do país: "A Guiné-Bissau, isoladamente, não pode resolver essas questões a curto prazo".
Segundo o economista, é a comunidade internacional que "deve pôr cobro a essa situação de conflito [na Ucrânia] o mais rápido possível, para que haja a retoma da economia a nível internacional. A curto prazo, não encontro outra saída," conclui.