Guiné-Bissau: DSP e Sissoco disputam Presidência
27 de novembro de 2019A 29 de dezembro, os guineenses vão novamente às urnas para eleger o futuro chefe de Estado. Será a terceira votação no país este ano. Os dois candidatos mais votados nas sétimas eleições presidenciais realizadas na Guiné-Bissau, no passado domingo, dia 24, vão disputar a segunda volta do pleito, para escolher o sucessor do Presidente derrotado, José Mário Vaz (Jomav).
O líder do PAIGC e candidato presidencial Domingos Simões Pereira obteve 222.870 votos, o equivalente a 40,13%, contra os 153530 mil - 27,65% - de Umaro Sissoco Embaló, terceiro vice-coordenador do MADEM-G15, de acordo com os resultados provisórios divulgados nesta quarta-feira (27.11), pela Comissão Nacional de Eleições (CNE). Os dados apontam ainda para uma abstenção acima dos 25%.
Os dois candidatos, antigos primeiros-ministros na era Jomav Presidente, tiveram apoios dos dois partidos mais votados nas eleições legislativas de 10 de março último, o PAIGC, no poder, e o, MADEM-G15, líder da oposição. O MADEM é um partido criado por dissidentes do PAIGC em divergência com a direção de Simões Pereira.
Mais de 760.000 guineenses foram chamados no domingo às urnas para eleger o próximo Presidente da Guiné-Bissau, entre 12 candidatos. As eleições foram consideradas pelas missões de observadores nacionais e internacionais como livres, justas e transparentes. O ato da votação decorreu sem incidentes e com o elevado nível de civismo - a chave do sucesso eleitoral, disse à DW África o sociólogo Miguel de Barros. "O carisma dos candidatos vai decidir a segunda volta", nota.
Vitória por regiões
De acordo com os dados da CNE, DSP ganhou na capital guineense, setor autónomo de Bissau, na região de Biombo, Oio, Bolama-Bijagós, Quinará, Tombali e obteve também o maior número de votos na diáspora. Sissoco venceu nas regiões de Gabú e Bafatá, enquanto que José Mário Vaz apenas venceu em Cacheu, região aonde nasceu. Para vencer na primeira volta, o candidato precisa recolher 50% dos votos + 1.
Estas eleições são tidas como cruciais para a estabilização política e governativa de um país que, em cinco anos, teve sete governos e nove primeiros-ministros, a maioria nomeado à margem da Constituição da República, salientam analistas guineenses.
Um duelo entre ex-chefes de Governo
Domingos Simões Pereira, de 56 anos, mestre em Engenharia Civil e doutorado em Ciências Políticas e Relações Internacionais, já passou por vários cargos em diversos executivos guineenses e organizações internacionais. Em 2002, detinha a pasta do Equipamento Social no Executivo de Mário Pires, passando depois a ministro das Obras Públicas e Urbanismo, no Governo de Carlos Gomes Júnior, de 2004 a 2005. Em 2006, foi conselheiro do primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, e, ao mesmo tempo, secretário-geral da Caritas do país.
Antigo secretário executivo da CPLP (2008-2012), foi eleito duas vezes presidente do PAIGC. DSP, que concorre pela primeira vez à Presidência da República, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Infante D.Henrique em 2012, pelo antigo Presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva. Depois da vitória do PAIGC nas legislativas de 2014, foi nomeado primeiro-ministro do país e formou um Governo de Inclusão com os partidos da oposição. Enquanto presidente do PAIGC, ganhou duas legislativas e foi arredado do poder pelo Presidente cessante, José Mário Vaz.
Por sua vez, com a patente de Major-general, na reserva, Umaro Sissoco Embaló disputa a Presidência guineense pela primeira vez, com 47 anos de idade. O terceiro vice-coordenador do MADEM foi primeiro-ministro do país em novembro de 2016, na sequência da grave crise política que se vivia na altura.
Sob mediação da Comunidade Economica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), as partes assianaram o chamado Acordo de Conacri. O nome de Sissoco estava entre os três propostos pelo Presidente, José Mário Vaz, para o cargo do primeiro-ministro. O seu Governo viria a durar um ano e meio. Nas últimas legislativas, é eleito deputado da nação, no círculo 12, na região de Gabú, leste do país. Sissoco diz ser conselheiro de vários chefes de Estado de África e dono de uma boa relação com os líderes mundiais.
Derrotas pesadas
De acordo com os resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições, Nuno Nabiam, que perdeu a segunda volta das presidenciais de 2014 para o Presidente cessante, José Mário Vaz, surge, desta vez, como o quarto candidato mais votado, com 13,16% dos votos.
O líder do APU-PDGB concorreu com o apoio do Partido da Renovação Social (PRS), a terceira força política no Parlamento. Nas legislativas, o APU elegeu quatro deputados e aliou-se ao PAIGC para formação de um Governo de coligação liderado por Aristides Gomes, do PAIGC.
A direção superior do PAIGC já solicitou apoio do APU para a derradeira segunda volta, mas ainda não obteve um resposta. Os dois outros antigos primeiros-ministros, Carlos Gomes Júnior, com 2,66%, e Baciro Djá, com 1,28%, ficaram aquém das expetativas na votação, bem como o antigo chefe das Forças Armadas, António Afonso Té, que não passou dos 0,19%.