Inflação em Angola pode chegar aos 14% ainda este ano
24 de novembro de 2015
De acordo com o relatório, a taxa de inflação pode acelerar nos próximos meses, devido aos efeitos relacionados com a desvalorização da taxa de câmbio, bem como a introdução de um novo imposto sobre o consumo.
Em entrevista à DW África, Paula Carvalho, do gabinete de estudos económicos do Banco Poprtuguês de Investimento (BPI), fala num "efeito de curto prazo", embora admita que a taxa de inflação elevada possa vir a sentir-se na bolsa do cidadão comum.
DW África: Quais os fatores por trás da estimativa de crescimento da taxa de inflação angolana para 14%?
Paula Carvalho (PC): Esta estimativa reflecte, no fundo, o processo de desvalorização da moeda e também o efeito da actualização dos preços dos combustíveis, de se terem retirado os subsídios aos preços dos combustíveis, à venda no retalho em Angola. É uma estimativa para o final do ano e, em princípio, no próximo ano a inflação tenderá a estaibilizar. Estes efeitos tenderão a diluir-se, pelo que penso que não é preocupante. Apenas decorre do processo de rápida desvalorização da moeda e é um efeito sentido no momento que tenderá depois a desvanecer-se. Ainda estamos bastante longe dos patamares de inflação alcançados no início da década de 2000.
DW África: O relatório do BPI lembra que a taxa de inflação caiu nos últimos anos, mas inverteu a tendência com as alterações nas condições económicas de Angola. Diria que os esforços para diversificar a economia não funcionaram, daí também esta estimativa?
PC: Não, não tem a ver com isso. O aumento da taxa de inflação deriva da resposta que foi dada à forte quebra dos preços do petróleo – uma resposta adequada em termos de políticas económicas. É um efeito adverso, um efeito perverso, mas será de curto prazo. A médio prazo, a inflação tenderá a retornar a níveis mais baixos.
DW África: Esta subida da inflação, ainda que, como disse, num curto prazo, vai afetar a bolsa do cidadão comum?
PC: Vai afectar na medida em que se traduz num aumento do cabaz de bens essenciais. Reduz o poder de compra do cidadão comum. Mas, em princípio, tenderá a ser um efeito temporário. Também está dependente, claro, da continuação dos esforços de diversificação da actividade económica e do lançamento de uma base produtiva interna que permita gradualmente a substituição das importações.
DW África: O relatório do BPI lembra ainda que Angola enfrenta também uma descida das receitas fiscais, que impactam os planos do Executivo para a despesa pública que deve alargar-se a outros sectores da economia...
PC: O que acontece é que, apesar de todos os esforços de diversificação, a economia angolana ainda está muito dependente das receitas que provêm do sector petrolífero, incluindo o Orçamento do Estado, em que mais de 70% da receita pública é proveniente do sector petrolífero. Na medida em que a arrecadação se reduz, apesar dos esforços de aumento da tributação noutros sectores, o Orçamento do Estado tende a encolher por esse efeito. Isto pode ter impacto ao nível do investimento público, torná-lo mais contido e afectar alguns projectos de construção de infraestruturas, etc. Isso agora será uma escolha do Executivo.
DW África: E prevê-se o prolongamento deste cenário de preços baixos do petróleo?
PC: Por enquanto, o cenário que está em cima da mesa no mercado internacional é o prolongamento dos preços baixos, até porque um dos maiores consumidores – a economia chinesa – está em processo de abrandamento. Todos os mercados emergentes também estão em fase de abrandamento e, portanto, isso tenderá a ter um impacto mais prolongado no preço.