Investigador moçambicano ganha prémios na Alemanha
14 de julho de 2022O investigador moçambicano Djabrú do Rosário, que se dedica à pesquisa em química há doze anos, foi premiado na Alemanha.
Os prémios atribuídos foram o "Feel Good Scientist" e "Chief of Calmness", da Universidade de Educação de Heidelberg, na Alemanha. Os troféus foram conseguidos através da participação do investigador na International Science Slam, um evento internacional de apresentação de resultados de pesquisa, a convite do International Office, uma entidade gestora de bolsas de estudo.
O docente da Universidade Púnguè, em Moçambique, procura produzir produtos químicos de uso humano através de dejetos e material descartado na natureza, como parte do seu projeto de Doutoramento.
Djabrú do Rosário diz que "a utilização destes materiais é uma alternativa sustentável porque não causa problemas de contaminação, nem polui o ambiente."
DW África: Que prémios recebeu e o que significam estas distinções?
Djabrú do Rosário (DR): Eu recebi dois galardões num evento a convite da universidade. O prémio principal retrata o cunho científico dos trabalhos que temos vindo a fazer e o outro é a maneira calma com que apresentei os resultados. Isto significa o reconhecimento das diferentes pesquisas ou dos diferentes protótipos elaborados durante a minha pesquisa de doutoramento. O projeto segue a filosofia da corrente sobre integração, ciência, tecnologia e sociedade, onde o conhecimento científico e a tecnologia desenvolvidos na universidade podem servir para ajudar a resolver alguns dos problemas das comunidades.
DW África: Que matérias utiliza nas suas pesquisas?
DR: Nós coletamos urina, algo que a comunidade não precisa. Já carregámos cinza, que muitas vezes as padarias deitam fora porque não precisam. Isso também acontece nas casas, onde depois de se cozinhar com carvão ou lenha sobra muita cinza que não tem nenhuma função. Já levámos óleo queimado, em que os restaurantes, depois de tantas vezes fritar, deitam fora. Nós transformamos em produtos como fertilizantes para produzir comida, sabão. Também já produzimos álcool com descartes de batata doce.
DW África: De onde é que surge a ideia de utilizar estas matérias como objetos de investigação? É por ser uma opção mais sustentável?
DR: A ideia inicial deste projeto era mesmo não envolver custos das instituições, nem custos das pessoas envolvidas, principalmente os custos diretos. Por isso é que recorremos aos recursos que estão expostos na comunidade, que também cria um problema para essa comunidade, por exemplo, o lixo cria problemas de saúde pública, pode criar problemas de contaminação e poluição do solo ou ambiente. Nós vamos levar este lixo, assim estamos a ajudar a limpar as comunidades. E vamos usar como material didático para ensinar os estudantes das escolas. Isto também nos permite aprender a fazer algo prático. Com esta aprendizagem estamos a desenvolver as nossas habilidades e a dos nossos estudantes. A ciência tem de servir para resolver os problemas do dia a dia.
DW África: Das suas pesquisas, há alguma que se destaque ou que apresente resultados promissores?
DR: Atualmente temos como desafio a transformação do óleo usado de motores de automóveis movidos a diesel e a gasolina. É algo útil porque quando estes são descartados, poluem bastante as águas dos rios, charcos e também o solo. Dos resultados preliminares, obtivemos uma substância que tem as mesmas propriedades e que dá para polir e proteger artigos de madeira. Mas as pesquisas ainda continuam. Precisamos de encontrar a base certa e os aditivos certos para ver se ainda podemos transformar, por exemplo, em outras substâncias úteis, como detergentes. As bases científicas mostram que o detergente provém do óleo. É a mistura do óleo que provém da destilação fracionada do petróleo, que é o caso desses óleos e mistura com uma base. Então, precisamos de encontrar esta base e outros aditivos para termos os produtos finais.