Início da conferência "África em Ascensão" em Maputo
29 de maio de 2014África em ascensão. É este o mote de uma conferência de grande envergadura que começou nesta quinta-feira (29 .05.14), em Maputo, promovida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Governo de Moçambique. Trata-se de debater os desafios económicos que o continente africano enfrenta.
A temática vai ser discutida por decisores de África e de outras partes do mundo, representantes do sector privado, da sociedade civil, académicos e fundações privadas. Na assistência está também o enviado especial da DW África, Johannes Beck, que entrevistámos.
DW África: Qual foi a mensagem trazida pela diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, a Maputo?
Johannes Beck (JB): Uma mensagem positiva. África resistiu à crise financeira internacional. Ela comparou o sentimento nesta conferência a uma conferência do FMI há cinco anos na Tanzânia, em que muitos pessoas estavam bastante preocupadas por causa da crise financeira internacional, mas ela disse que África saiu muito bem desta crise ao contrário de outros países, nomeadamente, na Europa.
Segundo o FMI, verifica-se um crescimento muito elevado nos últimos anos. A África subsaariana cresceu 4,9% no ano passado, 2013, e o FMI espera um crescimento de aproximadamente um crescimento de 5,3% para este ano e para 2015. Não é por acaso que esta conferencia se realiza em Moçambique.
O país tem crescido na ordem de 7% anualmente e é uma das economias que mais cresce no mundo e é também uma das economias que atrai mais investimentos estrangeiros diretos em África, principalmente por causa das descobertas da existência de carvão e gás no país. Mas a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, alerta que este “crescimento não melhorou a vida de todas as pessoas e a pobreza continua a mostrar níveis inaceitavelmente elevados”, dizia no seu discurso de abertura.
DW África: Será que Christine Lagarde também trouxe uma receita para combater as desigualdades e a pobreza em África?
JB: A receita dela é mais investimentos nas infraestruturas, mais investimentos nas instituições públicas e nas próprias pessoas. Lagarde recomenda aumentar as capacidades dentro dos países que atraem investimentos para a exploração de recursos naturais para que mais pessoas possam finalmente beneficiar do crescimento e para tornar este crescimento mais inclusivo.
DW África: Interessante será, então, saber como reagiram os intervenientes moçambicanos e sobretudo o Presidente do país, Armando Guebuza.
JB: Eu achei o discurso relativamente fraco pois não havia muitas respostas às críticas de Lagarde. Guebuza limitou-se principalmente a citar os sucesso do Governo como a adesão à iniciativa das indústrias extractivas para mais transparência no setor, a EITI, na sua sigla em inglês. Guebuza citou muitos números no seu discurso.
“De 2010 a 2013, o crescimento económico situou-se a cima dos 7% projectando-se para 8% este ano de 2014”, discursou Guebuza. O Presidente de Moçambique, fugiu, por assim dizer, de algumas questões importantes como a renegociação dos contratos dos chamados megaprojetos, pois muitos críticos dizem que estes megaprojetos contribuem muito pouco para o Orçamento do Estado e que deveriam ser renegociados para aumentar a contribuição para o Orçamento do Estado. Guebuza citou apenas a obrigação de contribuir localmente para projetos sociais.
“A legislação define que uma percentagem das receitas provenientes da exploração mineira e petrolífera deve ser destinada ao desenvolvimento das comunidades das áreas onde se localização os respectivos projetos”, declarava o Presidente moçambicano.
No geral podemos dizer que houve muito optimismo na conferência, mas há algumas vozes críticas que dizem que na realidade as coisas não são tão positivas assim. Portanto, muitas pessoas ainda veem que ainda há muito trabalho a fazer para que realmente se possa dizer que África está em ascensão.