Jornais alemães seguem de perto a situação na Costa do Marfim
8 de abril de 2011O Frankfurter Allgemeine Zeitung, escreveu sobre os "sequestrados de Abidjan", ou seja a população civil, fechada em casa enquanto a penúria de bens alimentares é cada vez maior. A metrópole económica da Costa do Marfim, escreve o jornal, é o império do medo e da violência em estado puro.
Num outro artigo, o mesmo jornal evoca a intervenção dos militares franceses da missão Licorne, na luta pelo poder entre Laurent Gbagbo e Alassane Ouattara. O Presidente francês, Nicolas Sarkozy, hesitou muito tempo, nota o quotidiano. Desde 2007 a sua política pretendia que a antiga potência colonial não fosse implicada nos confrontos na Costa do Marfim.
Ao decidir intervir, ele tenta sobretudo preservar a longo prazo os interesses franceses na Costa do Marfim. Teme-se em Paris que o país, mesmo depois da rendição de Gbagbo, fique por muito tempo dividido em duas partes inconciliáveis. A curto prazo, o presidente francês considera como dever proteger os 12 mil cidadãos franceses que vivem em Abidjan.
Para o Tagesspiegel, o conflito Gbagbo-Ouattara, não é certamente um duelo entre um mau e um bom. As circunstâncias nas quais Alassane Ouattara adquiriu a sua imensa fortuna são confusas. Diferente de Gbagbo, Ouattara, é um astuto estratega que tem a opinião mundial do seu lado. Este homem, oriundo do Norte, não dá ares de ser um reconciliador. No sul do país, o medo de Ouattara exercer a sua vingança após a chegada à presidência é enorme. A sua imagem que muitos dizem limpa, estará manchada por um massacre que as suas tropas teriam cometido em Duekoué na sua última ofensiva, acrescenta o jornal.
Na mesma ordem de ideias, o Frankfurter Rundschau escreve que Ouattara deve unir um país profundamente dividido, cuja população votou 45% a favor de Gbagbo. Se "Ado", como Ouattara é familiarmente conhecido, não conseguir apagar da sua imagem as manchas e se não punir os autores do massacre de Duekoué, nunca irá ter o apoio de todo país.
O Süddeutsche Zeitung, debruçou-se sobre as intervenções exteriores na Costa do Marfim e na Líbia. Para o jornal, essas duas guerras, colocam a nu o dilema moral com que os Estados se debatem, quando legitimam as intervenções militares apelando aos princípios humanitários. Enquanto não se conseguir impor esses princípios a nível universal, melhor seria fazer como se tratasse de linhas directrizes de uma nova política estrangeira mundial.
O jornal destaca que os conflitos nos países pobres mostram precisamente que é impossível proteger totalmente os civis, só resta o dever de evitar o pior. No Ruanda, em 1994, o mundo assistiu impotente a um genocídio. Este foi provávelmente o grande fracasso da comunidade internacional. Em contrapartida, no Quénia, uma diplomacia rápida e criteriosa evitou a escalada da violência étnica após as eleições.
Na Costa do Marfim, acrescenta o jornal, a terminar, que o risco é grande das tensões étnicas desembocarem em novos massacres, principalmente se os adversários de Gbagbo não conseguirem restabelecer a ordem e o direito.
Autor: António Rocha
Revisão: Nádia Issufo