Jovens europeus partem para voluntariado em Moçambique
18 de julho de 2017Trata-se de um projeto no âmbito da cooperação entre a arquidiocese de Nampula, onde estão os Missionários de São João Baptista, e associações de voluntariado alemãs, e pretende melhorar as condições na província nortenha de Nampula, em Moçambique. Um local com "várias dificuldades" ao nível de educação, saúde e economia, pelo que "a vantagem do voluntariado é inegável”, defende o diocesano de Nampula, padre Cantífula de Castro, acrescentando que "a transmissão desse calor humano ao povo de Nampula e, neste caso de Marrere, é mesmo imprescindível".
"O projeto parecia bom do que podia fazer lá [em Marrere] e, por isso, quando me ligaram a oferecer a vaga, disse logo que sim," revela o estudante alemão Daniel Wallmann. Ele e Rafael Forte foram juntos da Alemanha para Marrere em 2012, onde estiveram um ano. Lá, animaram os dias dos jovens estudantes moçambicanos, ensinando a tocar sarra (violão) e violino, mas também ajudavam a limpar o curral dos animais, faziam trabalhos agrícolas e foram serventes de construção civil - ajudando a construir um novo prédio para os padres. Daniel Wallmann recorda, no entanto, que a maior parte do tempo esteve ocupado a pintar a escola de Marrere.
Adaptar-se para servir
Os voluntários alemães, com idades entre os 18 e os 25 anos, ajudam na missão educativa com crianças e jovens de Moçambique. Nas escolas, prestam apoio nas bibliotecas, dão aulas de inglês como atividade extracurricular aos jovens carenciados, praticam desporto com os jovens. As atividades são diversas, mas os voluntários podem surgerir outras. "Nós tínhamos de tomar iniciativa própria para conseguir uma tarefa," explica Daniel Wallmann.
"Ajudam no que for preciso," acrescenta o padre José Cristino, relembrando que "eles vão para servir," pelo que o voluntário deve ter capacidades de adaptação, de serviço e resistência, porque "lá não é fácil”, devido ao clima, condições económicas ou de alojamento. "Têm de se sujeitar ao que há lá", confirma o coordenador do projeto de voluntariado, padre José Coelho, dos Missionários de São João Baptista.
Daniel Wallmann não conhecia a província onde ia estar um ano. Porém, segundo o padre José Coelho, os estudantes alemães normalmente têm uma preparação prévia "bastante antecipada", ainda na Alemanha. A preparação inclui seminários e encontros ao longo do ano, quando são informados das condições económicas e sociais do país, segundo o coordenador.
Daniel Wallmann confirma que teve um seminário de preparação e seleção durante uma semana, feito por voluntários da fundação alemã sem fins lucrativos Alegro, "mas esse seminário é feito para voluntários que vão para vários países, então não é uma preparação específica para o lugar Marrere," explica.
Agora, o antigo participante do programa diz que a aldeia se está a modernizar: "A cidade está a chegar a Marrere". Daniel Wallmann recorda a resiliência dos habitantes que, apesar de terem uma vida "muito difícil, não perdem a esperança". O estudante conta que recebia 100 euros de bolsa da sua associação de envio, a Alegro, mas "trabalhava na construção civil com pessoas que ganhavam menos do que eu, mas eles estavam a trabalhar muito mais".
As barreiras ao passar a fronteira
Foi na província de Nampula que Daniel Wallmann aprendeu português. Soube que ia para o Marrere com meio ano de antecedência, mas com as provas finais do ensino secundário acabou por ter apenas os dois meses de férias escolares para se preparar para a aventura. "Para realmente aprender a língua e viver a realidade acredito que um ano inteiro é necessário", afirma.
Já no terreno, teve várias aulas de português e conta que o colega Rafael Forte "falava fluentemente espanhol. Por isso, tinha mais facilidade em comunicar com as pessoas e ajudou-me muito".
O principal objetivo de Daniel Wallmann ao embarcar nesta aventura era ensinar na escola do Marrere e poder estar num "país diferente," como classifca o estudante. Além disso, ao ir depois de concluir ensino secundário, conseguiu "ter tempo para decidir melhor o que fazer na faculdade" em termos de cursos "e fazer isso ajudando pessoas foi ainda melhor". O problema com vistos foi mais complicado de resolver do que a aprendizagem do português. "Nós entrámos no país com visto de turista e depois foi difícil obter o visto permanente," recorda.
20 voluntários alemães em 12 anos
O projeto de voluntariado começou sob proposta de alunos alemães que estudavam em Mainz, na Alemanha, num colégio dos Missionários de São João Baptista. A ordem católica alemã tem filiais em Portugal, Índia e Moçambique, onde desenvolve ações nas áreas de educação e saúde, em várias instituições sociais.
Com 12 anos de existência, o programa acolheu cerca de 20 voluntários alemães, mas extende-se a mais países. Na verdade, a fundação Alegro faz serviços voluntários dentro do Weltwärts - o programa de serviço voluntário do Ministério alemão da Cooperação Económica e do Desenvolvimento - possibilitando que num ano sejam voluntários alemães a ir para países em desenvolvimento e, no ano seguinte, o contrário. Por isso, explica Daniel Wallmann, "noutro ano, vão receber pessoas e não vão enviar ninguém".Agora que está a concluir o seu curso superior, Daniel Wallmann já não tem perspetivas de voltar a fazer voluntariado em Marrere. "Foi um bom tempo" que passou em Marrere mas, como foi um ano, confessa que "estava com saudades da minha família e do meu país também". Agora dedica-se a ajudar os futuros voluntários.
Este ano de 2017 não vão jovens alemães para o Marrere, mas sim estudantes portugueses. Durante o mês de agosto, três estudantes da Universidade de Coimbra vão trabalhar nos hospitais, fornecendo todos os dias o jantar aos utentes que, de outra forma, apenas podiam contar com o apoio dos familiares - já que em Nampula o hospital não dá refeições aos doentes, esclarece o padre e missionário de São João Baptista, José Coelho.
"É uma experiência diferente que vão ter num hospital do Terceiro Mundo e que tem muitas carências," acrescenta o missionário José Coelho, responsável por coordenar o projeto de voluntariado. A ajuda que prestam à população é "muito positiva" mas, conclui o coordenador e padre José Coelho, "é capaz de ser apenas uma gota no oceano".