Juventude angolana atravessa maré de dificuldades
12 de agosto de 2019O acesso aos transportes públicos é um dos problemas que mais afeta a juventude angolana. Para além de escassos, os meios de transporte preparam-se para reajustar os preços nos próximos dias. A entrada em vigor da nova tarifa dos comboios de Luanda estava prevista para sexta-feira (09.98), mas, entretanto, foi adiada sem data.
Francisco Teixeira, responsável do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), acredita que este reajuste vai "atrapalhar" a ida dos estudantes para as escolas. "Esta questão do reajustamento dos transportes públicos vai dificultar ainda mais e atrapalhar a normal frequência dos estudantes às aulas porque muitos vivem distantes das escolas e muitos deles andam longos quilómetros a pé", diz.
Mas o problema poderá estar resolvido em breve, quando os jovens estudantes, crianças, antigos combatentes e idosos passarão a estar isentos nos transportes públicos - rodoviário, marítimo e ferroviário.
Francisco Teixeira, do MEA, desconhece as formas de atribuição do chamado passe social e lamenta o facto de a sua organização não ter sido consultada na concepção do documento. "Não sabemos que métodos foram usados nesse processo, não sabemos que critérios o Estado vai usar para atribuir o passe social aos estudantes e como vai chegar aos estudantes pobres. Deviam ter contactado as instituições de defesa dos estudantes. É caricato", afirma.
Acesso ao ensino superior e desemprego
Este não é único problema que afeta a juventude angolana. Não é fácil o acesso ao ensino superior. Este ano, a Universidade Agostinho Neto UAN) registou mais de 46 mil candidatos para cerca de cinco mil vagas. Em 2020, o governo vai acabar com a gratuitidade nas instituições públicas de ensino, uma pretensão que tem sido criticada pelo movimento "Propina Not" - campanha lançada nas redes sociais por ativistas cívicos e estudantes universitários contra o pagamento de mensalidades nas universidades públicas.
A par disso, há a falta de emprego. Nos últimos dois anos, a taxa de desemprego em Angola cresceu de 8,8% para 28,8%, indicam dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados este ano. E a juventude é a mais afetada.
O analista Augusto Báfuabáfua aconselha o Governo a direcionar as suas políticas públicas para o setor produtivo, como a agricultura e o turismo, porque pode gerar postos de trabalho. "O Executivo tem de fazer muito mais para empregar os jovens no turismo. Para além da hospedagem, a restauração, na própria mobilidade, aposta nos guias, nos tradutores. Há uma vasta oportunidade de trabalhos para jovens", destaca.
O sonho de ter uma casa
O sonho de ter casa própria é outro calcanhar de Aquiles para a juventude angolana. Augusto Báfuabáfua explica que é preciso apostar em políticas habitacionais "sérias e sustentáveis". "Há uma necessidade de o Executivo pensar grande, pensar que Angola é um país vasto com 1.246 e 700 km2 e nós somos somente 30 milhões", lembra.
"A grande luta para as habitações acontece mais nas grandes cidades, principalmente nas cidades de Luanda, Benguela e Lubango. Isso quer dizer que não há políticas sérias e sustentáveis, não há empenho suficiente no sentido de sair fora das grandes cidades", conclui o analista.
Durante muito tempo, Angola registou uma luta de gerações. Augusto Báfuabáfua diz que nos últimos tempos a situação inverteu-se. O analista aponta a introdução de jovens no Governo de João Lourenço como um sinal do desaparecimento deste conflito.
"Não há propriamente um conflito de gerações. O Presidente João Lourenço é relativamente mais novo [em relação a José Eduardo dos Santos] e no seu Executivo há gente tendencialmente mais jovem do que ele aos e isso vai amenizando esse tão propalado conflito de gerações", afirma.