Legislação ineficaz compromete rinocerontes em risco
27 de fevereiro de 2013A caça de rinocerontes para a extração do corno é um negócio de alto risco, mas simultaneamente de enriquecimento rápido dos caçadores.
A falta de legislação que proteja com efetividade a vida biológica da África do Sul está a pôr os rinocerontes africanos em perigo.
Em 2012, foram contabilizados, pelo menos, 745 rinocerontes vítimas de caça furtiva em África, o maior número registado nas últimas duas décadas. Só na África do Sul verificou-se um número recorde de 668 mortes de rinocerontes.
Para Mike Chairman, especialista da União Internacional para a Conservação da Natureza, na África do Sul, a questão está a tornar-se alarmante.
Os rinocerontes "têm sido perseguidos por causa do corno de rinoceronte, procurado em países do sudeste asiático, especialmente pelo Vietname e pela China", diz. Mas agora a procura está a crescer, refere, e isso leva também a um aumento da caça furtiva. "Estimamos que daqui a dois anos a taxa de perda de rinocerontes exceda a taxa de reprodução. Por isso, haverá um número mais reduzido do que temos agora."
Caçadores entram e saem com facilidade em Moçambique
O tráfico ilegal do corno de rinoceronte é coordenado por grupos de crime organizado, que comercializam o material extraído aos rinocerontes no mercado paralelo internacional.
Moçambique foi identificado como um ponto-chave da caça furtiva. No país, os caçadores furtivos têm acesso rápido à fronteira sul-africana e invadem o Parque Nacional Kruger, na África do Sul, onde vive uma das maiores populações de rinoceronte do mundo.
"O problema em Moçambique é que eles têm uma legislação de vida selvagem que não funciona, em que os caçadores furtivos não são considerados criminosos e não recebem mais que uma reprimenda", afirma o ambientalista. Já a África do Sul teria "uma legislação muito rígida. Os caçadores furtivos podem ficar presos dez anos por qualquer distúrbio que criem na vida selvagem."
Usos medicinais e não só
O Vietname e a China estão entre os principais compradores do corno de rinoceronte.
"O corno tem sido usado há milhares de anos na medicina tradicional chinesa", refere Chairman. Além disso, no Vietname, o corno é também usado como símbolo de estatuto social, acrescenta o especialista. O corno é considerado no país como um produto de luxo, o equivalente a ter um automóvel "Ferrari", por exemplo.
De 3 a 14 de março, a comunidade ambiental internacional vai discutir em Banguecoque, na Tailândia, a crise do rinoceronte africano durante a reunião da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES, na sigla em inglês).
Autora: Francisca Bicho
Edição: Guilherme Correia da Silva / Helena Ferro de Gouveia