Moçambique não protegeu espécies ameaçadas, diz WWF
23 de julho de 2012Caça furtiva com recurso a técnicas cada vez mais evoluídas, tráfico de marfim e roubo de reservas nacionais são apenas algumas das denúncias presentes num estudo apresentado pela organização ambientalista WWF na reunião sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres, a decorrer em Genebra.
A organização analisou a situação de 23 países asiáticos e africanos e concluiu que o comércio ilegal “permanece em quase todos os países avaliados”, salientando que há falhas graves na aplicação legal da proteção das espécies ameaçadas.
A par do Laos e do Vietname, Moçambique recebeu uma das piores avaliações.
"Moçambique falhou, a todos os níveis, no que diz respeito ao cumprimento e aplicação das leis de proteção das duas espécies assinaladas pela WWF. A situação dos rinocerontes é muito má e o mesmo acontece com os elefantes",explica Lamine Sebogo, especialista em elefantes da organização ambientalista em Nairobi, no Quénia.
"Esta situação não é surpreendente, tendo em conta o aumento da caça furtiva com recurso a materiais sofisticados na área protegida no norte de Moçambique, principalmente no Parque Nacional das Quirimbas”, disse.
Tráfico de marfim
De acordo com Lamine Sebogo, os caçadores furtivos estão interessados nos chifres dos rinocerontes e nas presas de elefantes para os enviarem para o sudoeste asiático.
Moçambique é um ponto central no tráfico de marfim entre África e Ásia.
"Moçambique tornou-se um dos principais países de trânsito para o marfim vindo da África Central e é também um fornecedor. Este tráfico envolve pessoas que ocupam cargos elevados, que estão a fazer negócio e a ganhar dinheiro com as trocas de chifres de rinocerontes e presas de elefantes de Moçambique para a Tailândia e a China, principalmente.”
O roubo de marfim das reservas do Estado é outra das questões que preocupam a WWF:
“A gestão das reservas dos governos, em África, é muito fraca e nós acreditamos que algumas delas estão a ser colocadas no mercado internacional, através de vários canais", diz Sebogo. "É o caso de Moçambique, que perdeu recentemente uma quantidade significativa de marfim. Isto significa que já encontraram uma forma de transferir esse marfim de Moçambique para o país de destino.”
Reforçar a lei
Apontando o dedo ao governo, a WWF, na voz de Lamine Sebogo, afirma que a solução deste problema está na parte legal:
“O governo está a enfrentar um nível sem precedentes de caça furtiva, que não consegue controlar. Para parar este tráfico, é preciso reforçar a lei e encorajar as autoridades, o departamento de vida selvagem, a serem mais proativos, a criarem e implementarem novas políticas. E conseguir um grande apoio político para garantir que os crimes relacionados com a vida selvagem são elevados ao nível de qualquer outro crime grave”, afirma Lamine Sebogo.
Segundo a WWF, Moçambique não conseguiu impedir o envolvimento dos seus cidadãos na caça ilegal de rinocerontes na África do Sul e está a falhar no controlo do comércio do marfim.
Só no último ano, foram apreendidos mais de 800kg de presas de elefantes e a pesquisa da organização ambientalista revela que o abate dos animais está a ser promovido por redes criminosas internacionais, que operam fundamentalmente na Ásia e em África.
O assunto estará em debate até à próxima sexta-feira (27.07) em Genebra, no encontro da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES), que proíbe o comércio de marfim de elefante, chifres de rinoceronte e partes de tigre, a fim de salvar os animais da extinção.
Autora: Maria João Pinto
Edição: Guilherme Correia da Silva/António Rocha