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As lições sobre o escândalo que envolve Isabel dos Santos

Marcio Pessôa
23 de janeiro de 2020

Consórcio jornalístico alerta que "Luanda Leaks" mostra que corrupção em África está a ficar mais sofisticada. Empresas internacionais são pressionadas a prestar contas e distanciam-se de Isabel dos Santos.

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USA Paradise Papers | Büros des International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ)
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo

A gigante internacional de auditorias PricewaterhouseCoopers (PwC) abriu uma investigação interna sobre suas relações com a multimilionária angolana Isabel dos Santos. A empresa de consultoria promete demitir funcionários que tiveram conduta irregular.

"Quando isso ["Luanda Leaks"] foi trazido a nós, ficámos tremendamente desapontados, especificamente com a relação que tínhamos estabelecido. Iniciamos nossa própria investigação e deixamos de trabalhar com ela [Isabel dos Santo] e com as organizações ao seu redor. Estou desapontado com o fato de não termos saído mais cedo dessa relação", disse

A PwC e o banco português EuroBic foram as primeiras instituições que anunciaram publicamente o fim de qualquer relação comercial com organizações controladas por Isabel dos Santos e pessoas a ela relacionadas. A empresária angolana foi constituída arguida em Angola.

As lições sobre o escândalo que envolve Isabel dos Santos

Distanciamento estratégico

Após o "Luanda Leaks", empresas globais tentam afastar-se de Isabel dos Santos para preservar sua reputação. As consultoras PwC, McKinsey e Boston Consulting Group foram apontada pelas reportagens produzidas pela rede coordenada pelo Consorcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) como empresas implicadas no prejuízo que Isabel dos Santos teria dado à petrolífera Sonangol.

Segundo o vazamento de documentos, as empresas trabalharam com a Matter Business Solution - uma empresa em Dubai ligada à empresária angolana - que teria recebido 115 milhões de dólares da Sonangol quando Isabel dos Santos presidiu a estatal angolana.

O megavazamento sobre o império empresarial de Isabel dos Santos inclue 700 mil e-mails, contratos e outros documentos vazados pela Plataforma de Proteção a Denunciantes em África, que tem sede em Paris.

A organização ofereceu a documentação ao ICIJ, que mobilizou mais de 120 jornalistas em mais de 20 países. Os profissionais passaram de de oito a nove meses a examinar os arquivos relacionados a Isabel dos Santos.

Symbolbild: Korruption
Corrupção estaria mais sofisticada em ÁfricaFoto: picture-alliance/dpa/P. Pleul

A sofisticação da corrupção

O coordenador de parcerias com África e Médio Oriente do ICIJ, Will Fitzgibbon, não tem notícias de qualquer ação de retaliação sobre os jornalistas que fizeram a denúncia contra Isabel dos Santos. Fitzgibbon acha que "Luanda Leaks" mostra uma mudança de comportamento em torno dos escândalos de corrupção, para além do movimento de isolamento do ator denunciado. Especificamente sobre África, o coordenador do ICIJ acredita que os alegados casos de corrupção, irregularidades ou crimes financeiras mudaram nos últimos anos.

"Não se pode mais pensar em pessoas circulando pelos países com uma maleta com 100 mil dólares em notas. O Luanda Leaks mostra como esse tipo de comportamento financeiro é complexo, envolve dezenas, às vezes centenas de advogados, contabilistas, profissionais de relações públicas, consultores. Todos desempenham um papel", explica.

Fitzgibbon diz que resta saber o que os governos dos países onde Isabel dos Santos tem negócios vão fazer diante destas denúncias. "Jornalistas não são promotores, juízes nem policiais. Agora depende das autoridades observarem o que nós revelamos, os documentos, as reportagens, e decidir se vão fazer alguma coisa para levar isso adiante", questiona. 

 

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