"Maior herança de Dhlakama é o diálogo"
16 de maio de 2018"Vai-se o líder, ficam incertezas". "Obrigado". "Dhlakama: 1953-2018". Enquanto vê as capas dos principais jornais de Moçambique que anunciam a morte do histórico líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), no seu escritório na Sociedade Dante Alighieri, no centro de Roma, o professor Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, recorda um encontro com Afonso Dhlakama na capital italiana.
"Dhlakama teve um papel importante no acordo de paz, tornou-se consciente que a guerrilha não trazia nada de positivo a Moçambique. Eu lembro-me da sua visita a Roma, um encontro comigo e com dom Matteo Zuppi [bispo da Arquidiocese de Bolonha], no qual se começou a falar do processo de paz".
Riccardi fala de uma transformação importante pela qual o ex-líder da RENAMO passou naqueles dias em Roma. "Recordo da sua felicidade, da assinatura [do acordo] da paz e lembro-me de um homem que tinha perspicácia política. Talvez o seu grande desafio tenha sido aquele da procura dos colaboradores, da criação de uma classe dirigente da RENAMO que hoje existe e penou um pouco no início".
Segundo Andrea Riccardi, as negociações de paz foram para Dhlakama "uma escola, uma passagem da lógica da guerrilha à lógica da política".
Lógica colocada à prova
Há uns anos, em Moçambique, voltou a haver confrontos entre as forças governamentais e homens armados da RENAMO. Mais recentemente, Dhlakama e o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, estavam em contato para chegar a uma paz definitiva.
Para o fundador da Comunidade de Santo Egídio, houve, no entanto, um certo extremar de posições por parte de Dhlakama. O percurso em busca da paz definitiva para Moçambique tinha uma grande chance de ser concluído na gestão do Presidente Nyusi, apesar do endurecimento de Dhlakama.
"Eu não falaria de radicalização. Ele apoiou honestamente o nascimento de um país democrático e pluralista, no último período houve grandes problemas entre FRELIMO, Governo, e RENAMO", diz Andrea Riccardi, ressaltando que "nós, enquanto Santo Egídio, sempre defendemos a necessidade do diálogo. Recordo que o próprio dom Zuppi foi conversar com Dhlakama na Gorongosa. Mas ele nunca renunciou ao diálogo".
Agora, sem a figura do líder histórico, Riccardi espera que Moçambique continue "nesta estrada de diálogo". "Acredito que a melhor herança de Dhlakama seja justamente essa", conclui o professor.