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Manifestações reprimidas em Angola: "Não vamos parar"

António Ambrósio
26 de abril de 2023

É cada vez mais difícil realizar atividades reivindicativas em Angola. No fim de semana, dois protestos foram impedidos pela polícia em Luanda e no Bengo. Ainda assim, os manifestantes prometem que a luta vai continuar.

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Polícia impediu protesto em Luanda em janeiro e deteve ativistas
Polícia impediu protesto em Luanda em janeiro e deteve ativistasFoto: Borralho Ndomba/DW

O Movimento de Estudantes de Angola (MEA) juntou-se em Luanda, no sábado (22.04), para pedir o fim da greve dos professores universitários que dura há dois meses, mas a tentativa de manifestação foi frustrada pela Polícia Nacional. Cinco manifestantes chegaram a ser detidos.

Líder estudantil Francisco Teixeira garante que a luta continua
Líder estudantil Francisco Teixeira garante que a luta continuaFoto: DW/B. Ndomba

Apesar de tudo, o presidente do MEA, Francisco Teixeira, promete que a luta vai continuar. "O diálogo vai ser permanente com todas as instituições ligadas ao governo para poder compreender e chamar atenção das violações dos direitos humanos", diz.

"Nunca vamos fechar as atenções ao diálogo, somos uma organização estudantil e o diálogo é a nossa principal arma de luta e vamos manter o diálogo com as instituições para apresentar as nossas visões de Angola e da democracia", assegura o líder estudantil.

Bengo quer cumprimento de promessas

Na província do Bengo, um grupo de ativistas também se juntou no passado fim de semana para dar início a uma campanha de recolha de assinaturas cujo objetivo é exigir ao Governo o cumprimento das promessas eleitorais.

"Um grupo de jovens da sociedade civil saiu à rua para recolher assinaturas públicas visando pressionar o governo a fazer a estrada de Nambuangongo, a Polícia Nacional foi ao largo, cercou e impediu o cidadão a exercer o seu direito de cidadania", explica Jaime MC, porta-voz do grupo.

O jovem defende que, em vez de ameaçar, "a polícia deve estar para os interesses da coletividade e a coletividade é aquela população de Nambuangongo que não tem asfalto, a coletividade são aqueles jovens que estavam recolhendo assinaturas de forma pacífica, com caneta e folhas."

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Jaime MC avança que, apesar da repressão no largo 10 de dezembro, em Caxito, a sua equipa trabalhou em zonas periféricas e vai continuar a recolher assinaturas para levar uma petição ao gabinete do Presidente angolano, João Lourenço.

"Nós não vamos parar, sabemos os procedimentos legais e administrativos para exigir os nossos direitos. Então, nenhuma força de ordem e segurança vai impedir o cumprimento dos preceitos democráticos que constam da Constituição aprovada em 2010, sublinha.

A DW contactou os gabinetes de comunicação institucional da Polícia Nacional e da delegação do interior no Bengo, mas os responsáveis pelas instituicoes remeteram-se ao silêncio.

"Nem sempre a força resolve"

O analista Ngongo Mbaxi apela aos ativistas para o cumprimento dos procedimentos legais exigidos para a realização de atividades reivindicativas. E também pede uma postura pedagógica à polícia angolana.

"Nem sempre a força resolve, é importante que as partes estejam sensibilizadas, para que não haja uma conversa musculada de forma a garantirmos, tanto a segurança dos que se manifestam, como dos que não fazem parte da manifestação", recomenda.

O jurista Joveth Domingos pede uma "postura republicana" aos órgãos de defesa e segurança e apela a uma reflexão sobre a Constituição angolana.

"A Polícia Nacional é dirigida pelo Ministério do Interior e este por um ministro que por natureza é membro do comité central do MPLA", lembra, "o que leva a que tenhamos uma polícia mais política. Daí que há necessidade de se rever este lado."

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