Maurícias: Presidente vai demitir-se
10 de março de 2018Ambiente de festa no paraíso de férias: cerca de 1,2 milhões de habitantes celebram oficialmente na próxima segunda-feira (12.03) os 50 anos da independência das Ilhas Maurícias. Os festejos já duram há vários dias, com festivais e exposições no país – considerado um exemplo de democracia e desenvolvimento por várias ONG internacionais.
Mas nem tudo são pontos positivos: a Presidente da República da Maurícia, Ameenah Gurib-Fakim, envolvida num escândalo financeiro, deve demitir-se após as cerimónias dos 50 anos da independência, anunciou na sexta-feira (09.03) o primeiro-ministro, Pravind Jugnauth.
Atualmente a única Presidente em África, Ameenah Gurib-Fakim terá desviado fundos públicos. Gurib-Fakim tem sido alvo de pressão, devido a acusações de que utilizou um cartão bancário fornecido por uma organização não-governamental para fazer compras pessoais.
O escândalo foi revelado pelo jornal local Express. Segundo o diário, a ONG em causa é o Planet Earth Institute, financiada pelo milionário angolano Álvaro Sobrinho, que está a ser investigado por suspeitas de irregularidades em Portugal.
"Caso de sucesso"
Entretanto, as Maurícias são um caso de sucesso. É o que diz Alex Vines, investigador no instituto britânico Chatham House. As Ilhas Maurícias ocupam há cinco anos o primeiro lugar no índice Mo Ibrahim de boa governação em África. Também a organização não governamental Freedom House dá boa nota ao país no que diz respeito à política e aos direitos civis.
Desde a independência, em 1968, as Maurícias têm registado um desenvolvimento positivo – contrastando com os países vizinhos, como Madagáscar, marcados por golpes militares, ditaduras e violência.
Para Alex Vines, "o Governo tem mudado regularmente e há convivência entre partidos e alianças, por isso o país não tem sido tão marcado pelas políticas centradas em grandes estadistas que temos visto no continente africano". O investigador da Chatham House diz também que "tem havido uma maior tradição de pluralismo político" no país.
País multicultural
As Maurícias são compostas por várias etnias. Antes da chegada dos navegadores portugueses, no século XVI, a ilha era desabitada. No século XIX, os colonizadores britânicos trouxeram escravos e trabalhadores de outros países e continentes para as Maurícias, principalmente para trabalhar nas plantações de cana de açúcar. Os descendentes ficaram no país. Os habitantes são, na maioria, hindus. Um terço, cristãos.
A académica Christina Meetoo, da Universidade das Maurícias, acredita que a diversidade é uma das chaves do desenvolvimento da ilha. Mas sublinha que pode também dar origem a conflitos: "Um problema que ainda temos de resolver é a nossa identidade nacional. O país tem uma característica única: é composto por vários grupos étnicos e religiosos e às vezes é difícil lidar com isto, garantir que todos têm um lugar na sociedade, de forma inclusiva, garantir que há igualdade entre os diferentes segmentos".
Divisões sociais
E a tensão entre a maioria hindu e a minoria muçulmana está a agravar-se, diz Alex Vines. Também na economia há uma divisão. Com um PIB per capita de 7 mil e 800 euros, as Maurícias estão no topo da lista do continente africano, onde muitos países ainda são classificados "em desenvolvimento". O dinheiro já não vem do açúcar, mas sim do turismo e dos serviços financeiros – o país é um popular paraíso fiscal. Porém, nem todos beneficiam disto.
Segundo Alex Vines, que ressalta que um dos problemas do país é o aumento do desemprego jovem e da desigualdade, "as taxas de crescimento da economia das Maurícias têm sido impressionantes e há alguns vencedores, mas também há muitos derrotados. A classe média sente-se sufocada".
E é cada vez mais difícil para o Estado ajudar as pessoas em dificuldades. Christina Meetoo lembra que a dívida pública é elevada – uma consequência dos problemas económicos de anos anteriores.
"Temos um sistema de segurança social que queremos manter, educação e saúde gratuitas, transporte escolar e de idosos gratuito. Como é que equilibramos isto com o facto de não termos receitas suficientes para o Estado suportar isto? O défice continua a aumentar".