Membros da RENAMO em Tete refugiam-se no Malawi e Zâmbia
19 de dezembro de 2022Na província de Tete, o partido Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) queixa-se de intolerância política por parte da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder desde a independência moçambicana, em 1975.
O maior partido da oposição diz que os seus membros são ameaçados, perseguidos e obrigados a refugiarem-se em países vizinhos, como o Malawi e a Zâmbia.
Gravidade em Tete
Segundo a RENAMO, os militantes do partido vivem cenários de intolerância política em quase todo o país, mas a situação é particularmente grave nos distritos de Chifunde, Maravia e Cahora Bassa, na província de Tete.
Calisto Nhandula, chefe da mobilização provincial da RENAMO naquela província, conta que os membros da oposição "são corridos e expulsos por pertencerem à RENAMO e obrigados a juntarem-se à FRELIMO".
"As 'machambas' são arrancadas e apoderadas pelos líderes comunitários, e os mesmos também se apoderam dos animais", acrescentou. "A retirada de mastros e bandeiras acontece em todos os distritos desta nossa província", disse.
"Eu só quero apelar à FRELIMO, com os seus primeiros secretários, que andam a instrumentalizar os líderes comunitários, para pararem com isso."
Refúgio nos países vizinhos
O partido diz não ter um número concreto dos membros que foram obrigados a abandonar o país para se refugiarem nos países vizinhos. Entretanto, garante estar em comunicação com pelo menos seis membros que dizem estar a passar por situações difíceis, sem ter onde ficar e o que comer.
Nas eleições gerais de 2019, por exemplo, três delegados políticos da RENAMO nos distritos de Moatize, Tsangano e Chifunde foram assassinados. O corpo de uma das vítimas não foi encontrado até hoje.
Laide Txicandenga conta que foi uma das vítimas destas perseguições e refugiou-se no Malawi, "O líder local ameaçou-me caso eu continuasse a servir a RENAMO", afirma. "Arrancaram a minha machamba".
"Quero voltar a casa, mas tenho medo. O líder local mandou os seus homens mascarados e queimaram a minha casa. Quase morri. Estou a sofrer no Malawi", relata.
Acompanhamento
Devido ao agravamento da situação há semanas, o chefe da implantação regional da RENAMO no centro do país, Geraldo Carvalho, deslocou-se ao distrito de Chifunde, Tete, para acompanhar de perto o que os membros do partido estão a viver.
À DW África, Geraldo Carvalho disse que considera a situação preocupante e que "Tete está a transformar-se num barril de pólvora".
"As pessoas estão saturadas, os filhos estão a crescer e a ver os seus pais como forasteiros, a viverem daqui para ali", acrescentou.
Geraldo Carvalho relata ainda que a pessoa que o recebeu na região foi perseguida e teve de dormir no mato: "Há um grupo de sete a dez pessoas, encapuzadas a ameaçarem-no de morte por ter recebido pessoas da RENAMO".
Nem o Governo, nem a FRELIMO ou a polícia aceitaram falar à imprensa. Mas as autoridades negaram as acusações num encontro com o chefe da implantação regional da RENAMO, Geraldo Carvalho.