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Angola tem um novo ministro das Finanças "mais submisso"

António Cascais7 de setembro de 2016

O novo ministro das Finanças de Angola, Augusto Archer Mangueira, é tido como um homem "mais submisso" às vontades do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

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Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin

Armando Manuel, que ocupava a pasta de ministro das Finanças de Angola desde 2013, foi exonerado na passada segunda-feira (05.09), tendo sido substituído por Augusto Archer Mangueira, um homem tido como "mais submisso" às vontades do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

É uma substituição inesperada, porque Armando Manuel era visto como um homem da confiança do Presidente da República angolano. No entanto, os conflitos surgiram, nomeadamente no que concerne aos problemas financeiros de Angola e à ida ao país de uma delegação do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Fala-se ainda que um desentendimento com José Filomeno dos Santos, Presidente do Conselho de Administração do Fundo Soberano e filho do Presidente angolano, terá também contribuido para a exoneração de Armando Manuel, que também ficou fora do Comité Central, no recente congresso do MPLA.

A DW África entrevistou sobre o assunto Precioso Domingos, analista e professor no Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola.

DW África: O que é que significa esta substituição e o que vai mudar com a nomeação de Augusto Archer Mangueira para a pasta das Finanças de Angola?

Precioso Domingos (PD): Foi surpreendente a exoneração de Armando Manuel e a surpresa é acentuada a partir do momento em que o cargo passa a ser ocupado por Archer Mangueira. Mas, ao mesmo tempo, também já havia indícios, justamente por causa de certas situações menos positivas em que provavelmente Armando Manuel era tido como sendo o responsável, nomeadamente a deslocação a Angola de uma delegação do Fundo Monetário Internacional. Esta instituição torna-se um problema justamente por causa do período que se avizinha, que é a fase eleitoral. E o Presidente acha que Mangueira seja a pessoa que irá facilitar a gestão neste ambiente eleitoral.

DW África : Mas o que estará por trás desse problema com o FMI?

PD: Segundo consta, quando o FMI chegou a Angola, alguns membros do Governo, em particular o próprio chefe do Governo, o Presidente José Eduardo dos Santos, questionaram como o FMI tinha chegado a Luanda, e, ao que tudo indica, era uma forma de fazer com que Armando Manuel assumisse a culpa do FMI ter chegado e que depois se desfizesse do FMI sem que necessariamente ficasse comprometido o que o Presidente José Eduardo dos Santos tinha feito até ao momento, ou seja: tinha assinado a carta, justamente por ser chefe do Governo, convidando a vinda do FMI. Só que, entretanto, Armando Manuel provavelmente não terá entendido essa lógica política das autoridades angolanas, que é um pouco da chamada "lógica africana", de que quando o mais velho deita gás o mais novo tem que assumir justamente para que o mais velho não se sinta envergonhado.

Angola Dr. Precioso Domingos
Precioso Domingos, analista e professor na Universidade Católica de AngolaFoto: Privat

DW África: E qual foi a posição do então ministro Armando Manuel?

PD: Na verdade, Armando Manuel tentou justificar-se e certamente o Presidente da República terá solicitado a sua cabeça.

DW África: Também circulam notícias que dão conta de um conflito entre o filho do Presidente da República, que é o PCA do Fundo Soberano, José Filomeno dos Santos (conhecido como 'Zenu'), e o antigo ministro das Finanças, Armando Manuel...

PD: O antigo diretor do semanário "O Angolense", Graça Campos, fez um post no facebook a dar conta que também terá contribuído para a exoneração de Armando Manuel o facto de o filho do Presidente José Eduardo dos Santos ter solicitado o montante de 500 milhões de dólares a Armando Manuel, mas este achou, por sua vez, que não existiam canais que deviam ter seguido na solicitação de montantes de dinheiros públicos como este, e 'Zenu' não entendeu a postura do então ministro e provavelmente isto terá despoletado esta exoneração de forma imediata.

DW África: E agora o que se prevê em termos de novas políticas a serem adotadas pelo novo ministro, Archer Mangueira?

[No title]

PD: Não vejo uma certa capacidade de pensar de forma autónoma por parte do novo ministro. Certamente entrou para o cargo já com a lição estudada sobre as consequências de ter muita autonomia. Fico preocupado, porque o Armando Manuel (o anterior ministro) era alguém que ía para o estrangeiro, onde discutia com os mercados, com as instituições, dialogava com personalidades e não sei se Mangueira terá a mesma performance, tenho as minhas dúvidas.

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