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Boris Becker afinal não tem imunidade diplomática na RCA

Eric Topona | cvt
19 de junho de 2018

Boris Becker alegou imunidade diplomática num processo na justiça britânica. Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros da RCA diz não ter assinado o documento que permite que ele se identifique como diplomata da RCA.

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Belgien Faustin Archange Touadera & Boris Becker, neuer Sport-Attaché Zentralafrikanische Republik
Presidente da RCA, Faustin Archange Touadera, e Boris BeckerFoto: picture-alliance/AP Photo/Irle Moser Rechtsanwalte PartG

Na próxima quinta-feira (21.06), deveria expirar o processo de insolvência contra o ex-tenista alemão Boris Becker no seu país adotivo, a Grã-Bretanha. O antigo ícone do ténis ficaria, assim, livre da dívida que tem com um banco privado em Londres. Mas o advogado de insolvências Mark Ford lamentou a falta de vontade de cooperação de Boris Becker e apresentou uma moção para uma extensão do procedimento. O tribunal britânico já concordou, o que faz com que as disputas legais do alemão não tenham ainda um fim à vista.

Neste contexto, os advogados do ex-tenista apresentaram, na semana passada, um recurso, alegando que Boris Becker possuía um passaporte diplomático que lhe daria imunidade e o protegeria de outros procedimentos legais. A ser verdade, o papel de adido desportivo na RCA protegeria Boris Becker de qualquer ação legal, como a que está em curso na Grã-Bretanha. Numa entrevista à DW, Daniel Emery Dede, embaixador da UE na República Centro-Africana (RCA), confirmou que o alemão teria sido nomeado pela República Centro-Africana adido para a cultura e para o desporto na União Europeia.

Falsificação?

Mas, também em entrevista à DW, o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Centro-Africana, Charles-Armel Doubane, vem agora contradizer veementemente esta informação. Charles-Armel Doubane afirma não ter assinado "nenhum documento oficial que permitisse a Boris Becker identificar-se como diplomata da República Centro-Africana, ainda que lhe tenha sido prometido na visita a Bruxelas, que poderia tornar-se adido". O ministro dos Negócios Estrangeiros da RCA reforça ainda que não existe qualquer documento assinado pelas "autoridades diplomáticas centro-africanas, ou seja, nem do Presidente da República Centro-Africana, nem do Ministério dos Negócios Estrangeiros".

O alegado passaporte diplomático de Boris Becker, do qual a DW tem uma cópia, tem a assinatura do ministro Doubane. No entanto, o ministro dos Negócio Estrangeiros nega ter emitido o documento. "Eu disse-lhe que era uma falsificação, eu conheço a minha assinatura. Não gosto disso", afirmou o ministro, acrescentando que a justiça deverá fazer o seu trabalho.

A situação não está clara. Certo é que há algo a mais entre o Estado em crise e a lenda do ténis, como mostra uma fotografia na página na internet da Embaixada da República Centro-Africana na Bélgica. Boris Becker aparece sentado à mesa com outros diplomatas do país. Atrás, uma bandeira da RCA. A foto desapareceu do site oficial no fim de semana.

Ex-estrela de ténis alemão afinal não tem imunidade diplomática na RCA

Também o homem que poderia ter colocado Becker em contacto com os governantes tem-se mantido discreto: Stephan Welk, um empresário de Hessen, que também consta  no site da embaixada como membro do corpo diplomático. No fim de semana, a fotografia de Becker estava na página ao lado da foto de Stephan Welk. A DW tentou contactar Welk em Hong Kong, mas sem sucesso.

Também o escritório de advocacia de Boris Becker em Berlim não quis comentar o processo nem a questão do passaporte, mesmo após várias tentativas da DW.

Na República Centro-Africana, pouco se sabe sobre o caso do passaporte da ex-estrela alemã. O Governo parece estar a lidar com o caso discretamente e os meios de comunicação do país ainda não abordaram o assunto.

Boris Becker é considerado um amigo do presidente Faustin Archange Touadéra. O ministro dos Negócios Estrangeiros do país afirma ter conhecimento de, pelo menos, duas reuniões em que os dois se encontraram. Daniel Emery Dede diz não ter estado presente em nenhuma. "Certamente falaram também sobre uma oferta a respeito dos interesses da República Centro-Africana. Mas hoje posso-lhe dizer que o Sr. Becker não é membro da minha equipa diplomática, asseguro-lhe isso", deu conta o ministro.

Quase um quarto da população tem fugido do país desde o início de uma guerra civil em 2013. Cerca de um em cada dois centro-africanos depende da ajuda humanitária, segundo a ONU. No índice global de desenvolvimento, a RCA está em último lugar entre 188 estados registados.

Fugir da violência na República Centro-Africana