STP: Morte de homem marca último dia de campanha eleitoral
6 de outubro de 2018A morte de um homem, alegadamente por espancamento por agentes policiais, dominou esta sexta-feira (05.10) os discursos do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), maior partido da oposição são-tomense, no encerramento da campanha para as legislativas em São Tomé e Príncipe.
Na cidade de Trindade, a cerca de 10 quilómetros da capital, onde o homem morreu na quinta-feira passada, o candidato a primeiro-ministro do MLSTP-PSD, Jorge Bom Jesus, prometeu "uma política de segurança e defesa nacional diferente, que vai proteger o povo e que não será nunca contra o povo".
O líder do partido da oposição evocou o engenheiro Salustino Graça, Mé Xinja, José Cangôlo (todos vítimas do regime colonial português) como sendo os "nacionalistas que deram sangue para que nós hoje estivéssemos livres".
Bom Jesus pediu ainda "vigilância" ao povo até ao dia do voto, e prometeu que a "festa da vitória" será celebrada na cidade da Trindade, "onde começou a luta de 1953, e onde vamos festejar a liberdade deste povo".
Funeral feito pela polícia
Alexander Nascimento, 35 anos, pai de dois filhos, morreu na noite de quinta-feira e foi enterrado ontem compulsivamente no cemitério local, enquanto decorria o comício de encerramento do principal partido da oposição.
Familiares bloquearam a entrada do cemitério para impedir que o ato fúnebre tivesse lugar, mas dezenas de agentes de polícia de choque que transportavam o cadáver realizaram o funeral mesmo contra a vontade dos familiares e amigos.
"Esse jovem era um camarada nosso, residente em Monte Café, por mais que a gente quisesse, não temos condições de fazer uma festa porque Mé-Zóchi está de Luto. Queiram entender este momento que Mé-Zóchi está a passar, que o país está a passar", disse Dialô Santos, membro da direção do MLSTP-PSD.
"Hoje não está em causa estarmos contra esse ou outro, está em causa salvarmos o nosso país, salvar a nossa democracia, salvar a nossa liberdade. Nós queremos ter um São Tomé e Príncipe de paz, de tranquilidade, um São Tomé e Príncipe não dividido, queremos ser uma família unida para podermos viver em paz", disse no comício Raul Cardoso, outro dirigente do MLSTP-PSD.
PGR vai investigar suposta violência policial
O ministro da Administração Interna de São Tomé e Príncipe, Arlindo Ramos, segundo referiu a agência de notícias Lusa, afirmou que a Procuradoria-Geral da República vai investigar as circunstâncias da morte do homem de Trindade.
O assunto "está entregue à Procuradoria-Geral da República", disse Arlindo Ramos, contactado pela Lusa. "Neste momento não se confirma nada. Há a versão da família, há versões de outras pessoas, há muitas versões. O que estamos a fazer é a apurar a veracidade dos factos", referiu o governante.
Entretanto, a PGR informou este sábado que agentes da polícia foram detidos por "fortes indícios" de envolvimento no alegado espancamento. "Diligências realizadas conjuntamente com o comando-geral da Polícia Nacional e a Polícia Judiciaria apuraram haver fortes indícios de [os agentes da polícia] serem autores materiais dessa ação criminosa - homicídio, previsto e punido pelo Código Penal", indica o comunicado da PGR são-tomense, citado pela Lusa, que, no entanto, não indica quantos polícias foram até agora detidos.
Boicote às eleições
A comunidade de Monte Café, onde a vítima era residente, já ameaçou boicotar as eleições no próximo domingo, o que levou o presidente da Comissão Eleitoral Nacional (CEN), Alberto Pereira, a admitir "alguma repercussão" deste acontecimento sobre o ato eleitoral.
Já o secretário-geral do partido no poder, Ação Democrática Independente (ADI), Levy Nazaré, considerou hoje, em declarações à Lusa, que o "incidente não irá influenciar em nada o processo eleitoral". "Infelizmente aconteceu, é um incidente como já aconteceram muitos outros incidentes no passado", disse o responsável da ADI. O partido no poder tenta a reeleição do primeiro-ministro Patrice Trovoada.
O processo eleitoral, que convocou mais de 97 mil eleitores, será acompanhado por missões de observação eleitoral, que já estão no terreno, nomeadamente uma da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), chefiada pelo antigo ministro dos Negócios Estrangeiros timorense Zacarias da Costa.