Moçambique abre portas à primeira fábrica de antirretrovirais
20 de julho de 2012
A fábrica vai abrir portas na cidade da Matola, província sul de Maputo. Já foi concluída a instalação dos equipamentos de produção e controlo de qualidade, trabalho que decorre desde fevereiro deste ano.
Numa primeira fase, a fábrica vai cuidar da embalagem dos medicamentos que serão produzidos no Brasil e, gradualmente, a unidade vai receber produtos químicos para avançar com a produção local. O diretor de operações da fábrica, Roberto Camilo, explicou que aquela indústria farmacêutica vai produzir “seis produtos para a SIDA e 15 produtos que chamamos de multiprodutos. São para hipertensão, diuréticos, tuberculostáticos e outros”. Feitas as contas, a capacidade anual instalada na nova fábrica é de 226 milhões de medicamentos antirretrovirais e 145 milhões de outros produtos diversos.
A criação da empresa contou com o envolvimento do Instituto de Tecnologia em Fármacos brasileiro, sendo parte de um programa de cooperação entre Moçambique e Brasil.
A coordenadora do projeto, Lícia de Oliveira, falando à televisão pública de Moçambique, garantiu que o país vai exportar os fármacos, mas antes tem que adquirir um certificado internacional. Segundo Lícia de Oliveira, a “fábrica está pronta para ser certificada internacionlamente. Com esse reconhecimento de padrão de qualidade, o mercado será ilimitado. Ela está preparada para isso”.
Lícia de Oliveira assegurou também que “a sustentabilidade (...) foi acautelada na lógica de um plano de negócios que, recentemente, foi concluído e que aponta para números muito interessantes, como por exemplo o retorno dos investimentos desse empreendimento em sete anos”.
Com esta fábrica e o intercâmbio de competências e conhecimentos, o Brasil espera ajudar a reduzir os índices de seroprevalência em Moçambique. Na opinião da coordenadora do projeto, “da mesma forma que o Brasil conseguiu avançar, combater, minimizar e colocar as pessoas a ter possibilidade de tratamento, essa mesma ideia poderia estar aqui. E eles [no Brasil] pensam em trazer essa realidade para Moçambique”.
Custos com medicamentos impedem seropositivos de comprar alimentos
A produção da fábrica de antirretrovirais vai melhorar o acesso dos moçambicanos aos medicamentos. O país tem uma incidência do vírus HIV de 11,5 % da população, mas pouca capacidade de resposta de tratamento. Os medicamentos antirretrovirais só chegam, ainda, a 260 mil seropositivos dos mais de dois milhões que existem em Moçambique.
Muitos dos seropositivos têm estado a queixar-se da falta de dinheiro para comprar comida a fim de resistir aos antirretrovirais. Celeste Ramos, ativista contra SIDA na Cruz Vermelha de Moçambique, declara que estão a ser realizadas campanhas de produção de alimentos para os seropositivos resistirem aos medicamentos.
Celeste Ramos considera que “a nossa ação tem que ser na comunidade. O nosso sucesso depende de uma participação ativa de todos nós. Queremos que a comunidade aprenda quais são os produtos que deve cultivar, como é que deve combinar corretamente os alimentos, de forma a dar às suas crianças e à população em geral uma alimentação saudável”.
Em 2014, a expetativa é de que a produção de medicamentos corresponda a pedidos de toda a África Subsaariana. O investimento total no projecto de construção da fábrica foi estimado em 80,4 milhões de euros, financiamento que está dividido entre o governo brasileiro e empresas privadas, como a mineira brasileira Vale (que opera no sector do carvão da província de Tete, no centro de Moçambique).
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Glória Sousa / António Rocha