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Moçambique: Natal em tempos de crise e protestos

Conceição Matende
18 de dezembro de 2024

Este ano, a quadra festiva em Moçambique poderá ser cara e com produtos sem qualidade, por causa dos protestos contra os resultados eleitorais que dão a vitória à FRELIMO, alertam empresários a poucos dias do Natal.

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Protestos pós-eleitorais em Maputo
Não se sabe ainda quando irão terminar os protestos em MoçambiqueFoto: Romeu da Silva/DW

A próxima quadra festiva poderá ser mais cara do que noutros anos. Os protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane estão a provocar um caos, afirma Luís Vasconcelos, vice-presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA) na província de Nampula.

Vasconcelos diz que há vandalismo, cobranças ilícitas, saques. Da vizinha África do Sul têm chegado cada vez menos produtos, e muitos, quando chegam, deteriorados. Com mais procura e menos oferta, os preços aumentam. "A batata reno chega um pouco estragada aqui em Nampula", exemplifica.

"Há cobranças nas portagens [ilícitas] ao longo da Estrada Nacional número 1, e isso faz com que os produtos sejam comercializados a um valor mais elevado. O pacato cidadão terá de comprar um produto com qualidade péssima a preços altos. No mercado de Arresta [o maior marcado em Nampula] há também muito vandalismo, por ser o mercado que recebe mercadorias que provêm de outras províncias", conta ainda o responsável da CTA.

A Comissão Permanente da Assembleia da República avisou, na sexta-feira passada, que a destruição de infraestruturas públicas, o bloqueio de vias e a vandalização de estabelecimentos comerciais são atos que estão a contribuir para "a fragilização" da economia nacional. Tudo isto, pouco depois de Moçambique ter anunciado que já tinha superado a crise económica em que o país esteve mergulhado durante anos.

Revolta popular desafia economia

Em entrevista à DW, o economista Egas Daniel reconhece que a atual revolta popular em Moçambique desafia a economia do país. Segundo o especialista, mesmo sem as manifestações já teria sido difícil cumprir as metas de crescimento para este ano. Agora, com os protestos, a situação tenderá a piorar.

Moçambique: "O Estado está a enfrentar uma revolta popular"

"Em 2024, as projeções indicavam que o crescimento rondaria os 5%. Previa-se que este mesmo nível de crescimento económico se mantivesse para 2025, mas já não se pode dizer que esse nível de crescimento será mantido. Certamente, não iremos crescer", afirma Egas Daniel.

"Se olharmos para os dados até ao terceiro trimestre, mesmo sem as manifestações, como elas estão a ocorrer - com danos económicos visíveis, não teríamos como chegar aos 5% previstos", destaca.

Protestos até quando?

A quadra festiva até pode ser uma gota no oceano. Não se sabe ainda quando os protestos vão terminar.

O candidato Venâncio Mondlane, que contesta a vitória da FRELIMO anunciada pela Comissão Nacional de Eleições, prometeu que as manifestações vão prosseguir até ao restabelecimento da verdade eleitoral. Isso pode demorar. Mondlane disse que "desta vez não teremos Natal", para continuar a protestar.

Egas Daniel estima que, quanto mais depressa houver estabilidade política, menores serão os prejuízos. "Se tivermos um aumento extraordinário no investimento estrangeiro ligado à exportação do gás natural, é provável que compensemos com facilidade o decréscimo a que estamos a assistir nesta última fase do ano", afirma.

Mas há também uma grande diferença entre crescimento económico e o impacto disso na vida na população, salienta o economista.

"Por mais que o gás natural consiga compensar as perdas de crescimento do final desse ano, é possível que isso não tenha grande efeito do ponto de vista de recuperar as condições de vida, que podem piorar por causa do contexto atual", conclui.

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