RENAMO nega autoria dos incêndios e saques
3 de junho de 2016
Aconteceu tudo pela calada da noite. Quatro homens armados, não identificados, entraram na localidade de Tsenane, no distrito de Funhalouro, província de Inhambane, e deixaram um rasto de destruição. Apoderaram-se de vários bens dos moradores, incendiaram casas e balearam uma criança de 6 anos no braço esquerdo, à queima-roupa.
Carlitos Ngovene é o irmão mais velho da criança baleada na noite de 26 de maio e contou à reportagem da DW África que “incendiaram casas deslocaram-se em seguida a uma casa abandonada e queimaram-na também". Ngovene disse ainda que casa dos seus familiares não escapou à ira dos homens armados: "Entraram na casa dos meus pais chutaram a porta do quarto onde estavam a dormir o meu irmão e o meu tio, perguntaram se tinham telefones e depois apoderaram-se de uma mala com algumas roupas, disseram que se iam embora. Mas minutos depois dispararam dois tiros e atingiram a criança quando estava para fugir.”
Carlitos Ngovene e a família foram obrigados a procurar refúgio na vila sede de Funhalouro porque já não se sentem seguros em Tsenane.
A região de Funhalouro tem sido também palco de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do maior partido da oposição, a RENAMO.
De noite no mato e de dia no distrito
Situações idênticas foram vividas pelo chefe da localidade, Salvador Elias Mazive, e outros funcionários públicos, que já estão há dois meses em Funhalouro – eles dizem que têm medo de serem raptados por homens da RENAMO.
Segundo Mazive, dos cerca de dois mil habitantes de Tsenane, metade passa as noites no mato e só regressa no dia seguinte. Alguns estarão a colaborar com guerrilheiros da RENAMO, refere o chefe da localidade.
O chefe da localidade de Tsenane garante que “é do conhecimento que anda alguém natural da zona de Malamulo que vive com os homens da RENAMO. Isso não significa que todos os populares abandonaram a região, ainda continuam mas vivem com medo. Por isso dormem no mato, por exemplo na localidade-sede todos dormem no mato, mas ao longo do dia as atividades continuam normalmente.”
Governo acusa, RENAMO nega
O administrador do distrito de Funhalouro não duvida de que quem destrói as casas colabora com a RENAMO. Fernando Omar diz que “a situação político-militar faz-se sentir, porque existem homens da RENAMO na localidade de Tsenane"
E o administrador revela: "Há pouco tempo tivemos uma incursão onde queimaram três casas, mas são pessoas conhecidas que fizeram aquilo porque são familiares dos visados, isso foi vingança e queimaram as casas dos tios e sobrinhos. Outra vez foram a sede do Posto Administrativo de Tome, de madrugada, fizeram disparos para o ar e como as pessoas no local já tinham conhecimento do que estava para acontecer abandonaram os seus lares. Os homens armados não encontraram ninguém e saíram sem problema.”
Contactado por telefone, o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, negou que homens armados do seu partido tenham atacado os habitantes de Tsenane, sublinhando que não há guerrilheiros posicionados naquela região.
Entretanto, os confrontos na região estão a prejudicar o comércio. Há menos clientes nos mercados e bancas de Funhalouro, conta Luís Alfeu, gerente do maior centro comercial naquela região: “Temos pouco e fraco movimento de clientes, só que não se sabemos se é devido a esta guerra ou não. Antes tínhamos muitos clientes por isso estamos a pedir a paz para o desenvolvimento ir avante.”