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Moçambique: Professores coagidos a dar respostas nos exames

Conceição Matende
3 de dezembro de 2024

Professores moçambicanos recusaram vigiar os exames do 12.º ano em protesto contra a falta de pagamento de horas extra. Um dirigente da ANAPRO denunciou à DW casos de suborno no setor da Educação.

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Isac Marrengula, presidente da Associação Nacional dos Professores Moçambicanos (ANAPRO), em entrevista à DW em abril de 2024
Isac Marrengula, presidente da Associação Nacional dos Professores Moçambicanos (ANAPRO), diz que o Governo em Maputo sofre de falta de interesse pelo setor da EducaçãoFoto: Silaide Mutemba/DW

Os professores em Moçambique reivindicam há vários meses o pagamento de horas extraordinárias, reclamando direitos de uma dívida que se arrasta há pelo menos dois anos e que o Ministério da Educação se comprometeu a saldar.

Isac Marrengula, presidente da Associação Nacional dos Professores Moçambicanos (ANAPRO), garante que apesar dos professores trabalharem para além das suas cargas horárias normais, ainda não receberam a respetiva compensação financeira.

Devido à falha do compromisso por parte do Governo, alguns professores decidiram boicotar os exames do 12.º ano, faltando à vigilância das provas. "É uma questão de luta, uma questão de exigir os direitos dos professores. Nós tivemos, na verdade, a confirmação da decisão dos professores. Tivemos 13 escolas que paralisaram o processo todo", adiantou Isac Marrengula em entrevista à DW.

Para o presidente da ANAPRO, que diz que a não comparência dos professores nos exames "não foi uma sabotagem", esta é uma forma de luta como outra qualquer.

Professores obrigados a darem respostas aos alunos

Segundo a ANAPRO, alguns professores foram ainda obrigados a manter-se nas salas de aula para vigiar os exames e a dar as respostas das provas aos alunos.

Professores reunidos em Inhambane, em dezembro de 2024
Professores em Inhambane faltaram à vigilância dos exames nacionais em protesto contra a falta de pagamento de horas extraordináriasFoto: Luciano da Conceição/DW

"Sim, temos conhecimento disso. Foram obrigados a controlar os exames e ajudaram os alunos, mostrando-lhes as respostas", confirmou.

A ANAPRO avança ainda que também houve professores que foram subornados para ajudarem os alunos, no sentido de não haver muitas reprovações. Em algumas escolas, foram os próprios seguranças dos estabelecimentos de ensino que vigiaram os exames, com o mesmo objetivo.

À pergunta sobre se essa forma de protesto poderia ter impacto na qualidade de ensino em Moçambique, Isac Marrengula responde: "O nosso exame já deixou de ser um exame credível. Não é um exame, é um circo de palhaçada".

"A situação dos professores contribui para a precariedade do próprio sistema nacional de educação", acrescentou.

Isac Marrengula afirma ainda que o Governo ainda não mostrou interesse em resolver os problemas dos professores. "O Governo não tem nenhuma resposta e não nos diz nada, mostrando falta de interesse pela Educação", concluiu.

Projeto resgata jovens das ruas de Maputo para a escola