Moçambique: Riscos de novas doenças durante o "fica em casa"
3 de julho de 2020Na província moçambicana da Zambézia, há muitos cidadãos que têm evitado ir às unidades sanitárias mesmo quando doentes. As pessoas levam a peito a campanha "Fique em Casa".
As pessoas têm medo, sobretudo, de serem infetadas com a doença. Também há o receio de terem de fazer o teste da Covid-19, porque a possibilidade de um resultado "positivo" assusta muita gente.
Mas as autoridades de saúde temem as consequências deste comportamento. Por um lado, porque é importante estar atento aos sintomas e fazer o teste, para tentar interromper os avanços da pandemia. Por outro, porque várias doenças podem ressurgir e os doentes crónicos têm de ser acompanhados.
Os profissionais de saúde temem que pessoas que sofram de hipertensão, diabetes ou doenças autoimunes e respiratórias deixem de ir ao médico por medo da Covid-19.
Duplo impacto
Aníbal Fernando, representante do Departamento de Saúde Pública na Direção Provincial de Saúde da Zambézia, está preocupado com a situação. "Na verdade, nós estamos a ter duplo impacto. O primeiro está associado à mensagem que está a ser divulgada, associada a ficar em casa", explica.
Para Fernando, "logo que o Ministério da Saúde começou a emitir circulares sobre como deve-se proceder com o atendimento a alguns pacientes, está-se a notar a redução do fluxo em algumas unidades sanitárias", esclerece o médico.
Uma cidadã residente em Quelimane que acaba de ter bebé disse que teve orientações numa das unidades sanitárias para que "aqueles que concluíram com [o período] do peso [do bebé] não devem ir ao hospital, terão que esperar até a pandemia passar".
Receio de ressurgimento de doenças
Desde março, quando se começou a falar do coronavírus em Moçambique, o número de pacientes nas consultas gerais e pós-parto tem reduzido pouco a pouco. Teme-se que ressurjam doenças como a poliomielite se as mães não levarem os bebés aos postos de saúde para serem vacinados, seguindo as recomendações das autoridades.
Para assegurar que isto não aconteça, as autoridades vão para o terreno. Segundo Aníbal Fernando, "a poliomielite está dentro das doenças de vigilância epidemiológica. Nesta situação de emergência pode existir uma ou outra criança que não esteja a beneficiar. Daí a necessidade de fazer brigadas móveis para se alcançar as crianças".
Já o especialista em saúde Alberto Muchera faz um apelo simples: "Se alguém está doente, vá ao hospital, com cuidado".
"A recomendação é ficar em casa para prevenir a Covid-19. Em caso de qualquer sintoma, a recomendação é ir às nossas unidades sanitárias, que estão preparadas para atender todos os casos de doenças nesta época."