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Moçambique: Troca de acusações pode ameaçar processo de paz

24 de setembro de 2020

Na Zambézia, a RENAMO alerta a FRELIMO para não fazer acusações que possam pôr em causa o processo de reconciliação. Nos últimos dias, os dois partidos voltaram a trocar farpas devido aos ataques no centro do país.

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Foto: picture-alliance/sy5/ZUMA Press

A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder, acusa a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) de estar a matar civis e membros do próprio partido no centro do país. Já o maior partido da oposição em Moçambique diz que quem está a matar civis e membros do partido é a FRELIMO.

Mosambik Zambezia | Partei RENAMO | Maria Elisa
Maria Elisa, delegada provincial da RENAMO na ZambéziaFoto: Marcelino Mueia/DW

A delegada da RENAMO na província da Zambézia Maria Elisa fez esta quinta-feira (24.09) um apelo às forças de segurança e à FRELIMO em alto e bom som. 

"Apelamos às chefias militares que deixem de ser instrumentalizadas pela FRELIMO, que não ordenem nem o rapto, nem o assassinato de dirigentes políticos da RENAMO na Zambézia, em particular, e no país, em geral", afirmou.

A acusação do maior partido da oposição não é nova. Há quase um ano, a RENAMO incriminou a FRELIMO de reativar "esquadrões da morte" para perseguir os opositores no país. O partido no poder rejeitou as acusações.

Esta semana, o primeiro secretário da FRELIMO na Zambézia associou os ataques na zona centro do país à RENAMO. Paulino Lenço acusou o maior partido da oposição de estar a gerar o clima de insegurança no centro do país, pela via das armas, atacando viaturas, assassinando civis e saqueando bens. 

Ameaças ao processo de paz

Mas a delegada da RENAMO Maria Elisa avisa que estas declarações mancham o bom nome do partido e podem ter consequências graves para o processo de reconciliação no país.

"O partido FRELIMO não pode usar a RENAMO como bode expiatório. O primeiro secretário da FRELIMO anda desalinhado com o seu presidente, que assume uma nova postura sobre a consolidação da paz e tem colaborado com o [líder da RENAMO,] Ossufo Momade, no processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração",o DDR, sublinhou.

A DW África contactou o primeiro secretário da FRELIMO, mas não conseguiu obter uma reação.

Mosambik Zambezia | Politischer Analyst | Ricardo Raboco
Ricardo Raboco: "Essa é uma questão tática dos partidos políticos"Foto: Marcelino Mueia/DW

As autoridades moçambicanas acusam a autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO de estar por trás dos ataques no centro do país. Os guerrilheiros da "Junta Militar", liderados por Mariano Nhongo, contestam o líder da RENAMO e o acordo de paz que Ossufo Momade assinou com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, em agosto do ano passado.

Entretanto, o analista político Ricardo Raboco relativiza a troca de acusações entre a FRELIMO e a RENAMO. Para o analista, trata-se de um "teatro político".

"Essa é uma questão tática dos partidos políticos. Nada adianta acusarem-se mutuamente enquanto isso não se resolve e, se assim acontecer, estão apenas a entreter o povo e a sociedade, e isso vai tornar-se cansativo", afirmou. 

"O acordo de paz é e será incompleto enquanto não se resolver a questão da 'Junta Militar'. Diziam que estamos em reconciliação, era suposto que as armas calassem", acrescentou o analista moçambicano.