Médicos moçambicanos regressam ao trabalho
24 de agosto de 2023Segundo o porta-voz da Associação Médica de Moçambique (AMM), Milton Tatia, o levantamento da greve que estava em curso desde 10 de julho resulta dos apelos lançados pela agremiação para a intervenção do Presidente da República, Filipe Nyusi, no assunto.
Tatia anunciou ainda na quarta-feira (23.08) que foi constituída uma equipa conjunta de trabalho para buscar soluções para os problemas que o Serviço Nacional de Saúde enfrenta.
"A interrupção foi determinada pelo facto de termos conseguido observar uma luz ao fundo do túnel para que, em conjunto, todas as associações e órgãos possam trabalhar com o Governo em prol do Serviço Nacional de Saúde", declarou o presidente da AMM, após uma reunião da classe em Maputo.
A greve fica assim interrompida até 2 outubro, para "dar espaço para um diálogo franco, aberto e produtivo" com a comissão criada pelo Governo, sob liderança do primeiro-ministro, Adriano Maleiane.
A interrupção é um voto de confiança para a nova equipa do Executivo moçambicano, que tem agora a missão de criar condições de trabalho básicas para a classe.
O Sistema Nacional de Saúde moçambicano tem enfrentado uma crise provocada por greves de funcionários, convocadas, primeiro, pela AMM, contra cortes salariais e falta de pagamento de horas extraordinárias, e depois pela Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), que exige melhores condições de trabalho também para outros profissionais.
Apelos de Filipe Nyusi
Antes da suspensão da greve, na manhã de quarta-feira (23.08), o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu que os médicos e outros profissionais de saúde em greve "voltem aos hospitais", referindo que a interrupção de serviços leva ao "sofrimento da população".
Um dia antes, o Governo tinha anunciado a criação de um novo grupo de trabalho, liderado pelo primeiro-ministro para as negociações com os profissionais de saúde.
A decisão de um novo canal negocial surgiu uma semana depois de um clima de tensão entre as partes, quando o porta-voz do Conselho de Ministros considerou que as principais exigências da classe não encontravam enquadramento na lei, não descartando a possibilidade de afastar os médicos que insistirem no protesto, principalmente os profissionais que estão nas categorias de especialização e nomeação provisória.
A AMM considerou que a posição do Executivo moçambicano mostrava não haver qualquer interesse em resolver o problema, ameaçando paralisar os serviços mínimos que a classe tem prestado desde o início da greve e observando que a "nobreza" do trabalho dos médicos justifica um tratamento diferenciado.