NATO se diz “otimista” sobre saída de Kadhafi da Líbia
9 de maio de 2011A luta entre rebeldes líbios e forças leais ao presidente Mouammar Kadhafi se concentrava no início desta semana (9/5) na cidade portuária de Misrata, única cidade do oeste da Líbia dominada pelos insurgentes. Há cerca de dois meses, a terceira maior cidade da Líbia e importante ponto estratégico do país está sob ataque dos militares pró-governo.
Ao mesmo tempo, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Anders Fogh Rasmussen, expressou seu otimismo face à evolução da situação no país do norte africano. “O jogo terminou para Kadhafi”, disse Rasmussen à rede de televisão norte-americana CNN. “Seu tempo acabou. Ele está cada vez mais isolado”, afirmou.
Já Aschour El Schams, opositor líbio que vive em Londres, ainda não é possível saber quanto tempo durará o conflito na Líbia. “É difícil dizer porque Kadhafi é imprevisível. Não sabemos o que ele pensa, como está fazendo seus planos. Ele poderá desistir em um dia, ou essa desistência poderá demorar mais, semanas ou meses”, afirmou El Schams à Deutsche Welle, por telefone.
“Não sabemos como ele está sofrendo, quantos de seus filhos morreram, o quanto ele perdeu de seu poder… sabemos que ele perdeu muitos de seus apoiantes, das forças que são leais a ele, seja porque esses combatentes foram mortos ou porque fugiram, ou saíram de seu campo”, avaliou ainda o opositor. “Mas, em Tripoli mesmo, não sabemos que tipo de apoio ele tem das pessoas que o rodeiam, das mulheres (a esposa) que estão lá, o quanto aquelas pessoas todas vão aguentar. A situação em Tripoli está ficando desumana, não é possível suportá-la”.
Por seu lado, o governo líbio afirma que a maior parte da população apoia o coronel Kadhafi, que os insurgentes são criminosos e militantes da rede terrorista Al-Qaida e que a intervenção da NATO é uma espécie de agressão colonial de potências ocidentais que querem pôr as mãos no petróleo líbio.
“Areia” no conflito e posição precária dos rebeldes
Por outro lado, o secretário-geral da NATO precisou que a solução para a crise líbia não poderá ser militar. “Precisamos de uma solução política” para sair do impasse, disse Anders Fogh Rasmussen.
No final de março, a NATO assumiu o comando das operações militares na Líbia, em cumprimento da resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A resolução permitiu o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia para proteger a população civil dos confrontos no país. Desde março, a Aliança Atlântica realizou 2.260 ataques aéreos.
A intervenção internacional acabou com a ofensiva do regime líbio contra o leste do país, que os rebeldes conquistaram. Mas parece ter entrado areia no caminho para uma solução do conflito – há bolsas de combate em Misrata e nas montanhas do sudoeste do país.
Os rebeldes enfrentam forças governamentais com poder de fogo superior, mas marcaram um ponto no plano financeiro: venderam, na segunda-feira (8/5), 100 milhões de dólares de petróleo, pagáveis por intermediação de um banco no Qatar. O dinheiro servirá para comprar alimentos e medicamentos.
Em Benghazi, bastião dos rebeldes no leste do país, um porta-voz dos insurgentes, Saddoun al-Misrati, disse no domingo (8/5) à agência noticiosa France Presse que os estoques atuais de água e de alimentos permitem a Misrata – cujos acessos por terra estão cortados e cujo porto vem sendo constantemente bombardeado – sobreviver por mais “cerca de um mês”. Fontes médicas em Misrata teriam estabelecido o balanço de mortos em 828 desde fevereiro até a semana passada. Duzentas pessoas ainda desaparecidas também estariam mortas, segundo as mesmas fontes.
Luis Moreno-Ocampo, procurador do Tribunal Penal Internacional, afirmou que o conflito líbio já deixou milhares de mortos. Mais de 500 mil pessoas, essencialmente trabalhadores estrangeiros na Líbia, fugiram do país desde meados de fevereiro.
NATO investiga denúncia de jornal britânico
A NATO também afirmou na segunda-feira (9/5) que está investigando um artigo do diário britânico Guardian, segundo o qual as unidades da aliança não teriam prestado socorro a uma embarcação com migrantes em dificuldades. O barco teria partido da Líbia e 62 pessoas teriam morrido de fome e de sede.
Muitos dos fugitivos tentam sair da Líbia por barco. A ilha italiana de Lampedusa acolheu, neste último fim-de-semana, mais de 2.100 refugiados da Líbia. Vários deles afirmaram ter visto o naufrágio de uma embarcação que transportava 600 pessoas e que partiu da capital líbia, Tripoli.
No sudoeste, 50 mil líbios passaram para a Tunísia nas últimas semanas, pelo posto de fronteira de Dehiba, controlado pelos rebeldes. Os refugiados foram acolhidos em sua maioria por famílias da Tunísia e nos campos de refugiados da região.
Autora: Renate Krieger (com agências afp/rtr)
Revisão: António Rocha