Ocidente procura país que dê asilo a Kadhafi
27 de abril de 2011Depois de mais de 40 anos no poder, Kadhafi não quer afastar-se voluntariamente. Como até maio se decidirá se ele e outros dirigentes do seu governo serão incriminados, Washington procura um país que lhe dê asilo e que não seja membro do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Kadhafi deu muito dinheiro aos africanos
Kadhafi tem excelentes relações com numerosos países africanos. Não foi por acaso que a União Africana foi fundada na sua cidade natal, Sirte. Ele distribuiu dinheiro e fez investimentos em todo o continente, de Tripoli até à Cidade do Cabo, de Dacar até Mogadiscio. Ajudou diversos potentados a chegar ao poder ou a manterem-se nele. Por isso muitos países africanos continuam ao seu lado.
Em março o Uganda ofereceu-lhe asilo. Henry Okello, ministro dos negócios estrangeiros ugandês, comenta: “O presidente Kadhafi não pediu asilo ao Uganda. Se o fizer, examinaremos o seu pedido, como fazemos em todos os casos. O Uganda nunca recusou acolhimento a refugiados; e não há qualquer razão para rejeitar um eventual pedido de Kadhafi”.
Uganda e Líbia – tão amigos que eles eram
Há 30 anos, o dirigente líbio ajudou o atual presidente ugandês Yoweri Museveni a conquistar o poder. Atualmente a Líbia tem naquele país diversas grandes empresas – no turismo, setor petrolífero, bancário, etc. Em Kampala, existe mesmo uma rua e uma mesquita com o nome de Kadhafi. Mas desde que Museveni se opôs aos planos do líbio, para criar os Estados Unidos da África, a amizade esfriou muito.
Apesar disso, o Uganda seria uma hipótese para Kadhafi se exilar, afirma o jornalista suiço Beat Stauffer: “O Uganda é um país bastante estável; e no contexto africano, relativamente próspero. Além disso o clã Kadhafi investiu ali muitos milhões. Isto significa que em caso de necessidade, o regime de Kadhafi tem a possibilidade de exercer pressão sobre o Uganda para o obrigar a dar-lhe asilo”.
Outras hipóteses: Sudão ou Chade
Outra hipótese seria teoricamente o Sudão. Ali Kadhafi não correria o risco de ser entregue ao Tribunal Penal Internacional. Mas o presidente sudanês, Omar al Bashir, contra quem aquele tribunal passou um mandato de captura, acusando-o de ser responsável por crimes de guerra, já anunciou que não dará asilo ao dirigente líbio:
“Para nós são muito importantes as relações com o povo líbio. As relações entre chefes de estado, são passageiras; mas entre os povos são mais duradouras. Por isso o Sudão não dará asilo a Kadhafi nas condições atuais”.
Uma terceira hipótese seria o Chade. O seu presidente Idriss Déby, deve muito a Kadhafi: apoio financeiro e um acordo de paz com o Sudão. Se o Chade o acolhesse, poderia receber, como compensação, ajuda financeira do ocidente. Mas Beat Stauffer suspeita que Kadhafi não está interessado:
“Eu penso que o Ocidente poderia dar dinheiro a países como o Chade. Mas tanto este como o Sudão são muito pobres e muito instáveis; e dificilmente Kadhafi aceitaria refúgio num país assim”.
Se o ocidente conseguir encontrar um país que acolha Kadhafi, e que não o entregue ao Tribunal Penal Internacional, isso iria afetar profundamente a credibilidade do Ocidente porque o dirigente líbio deve ser julgado. É o que afirma Bichara Khader, diretor do “Centro do moderno mundo árabe”, na Universidade católica de Lovaina, na Bélgica:
“Se o ocidente tentar realmente salvar Kadhafi, para assim resolver a questão líbia, isso seria uma ofensa para o povo líbio e uma confissão de impotência da comunidade internacional”.
Autor: Lina Hoffmann / Carlos Martins
Revisão: António Rocha