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Nabiam: "Sissoco sabe do tráfico de droga na Guiné-Bissau"

Iancuba Dansó
11 de julho de 2024

Foram mais de duas horas de ataques sem fim contra o PR. Ex-primeiro-ministro chamou à imprensa para desvendar os "podres" de Sissoco. Mas Nuno Nabiam foi aliado do PR e liderou o seu Governo durante mais de três anos.

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Foto: Ludovic Marin/AFP/Braima Darame/DW

De costas voltadas com Sissoco Embaló, de quem foi apoiante nas últimas presidenciais guineenses, Nabiam encetou um dos mais duros ataques contra o chefe de Estado guineense e arrasou a conduta "antidemocrática" de Sissoco Embaló, desde que chegou à Presidência do país em 2020.

Observadores dizem que foi uma conferência de imprensa atípica, pois trata-se de um ex-primeiro-ministro que foi principal rosto do regime de Sissoco Embaló. 

O também líder de APU-PDGB criticou o que considera de abuso de poder, crimes contra o Estado, atentado à democracia, corrupção generalizada, desmantelamento do Estado de direito, restrições a liberdades fundamentais, intrigas e calúnias protagonizados pelo atual Presidente.

Nabiam, que em janeiro deste ano já tinha denunciado a circulação da droga na Guiné-Bissau, disse não ter dúvidas do que fala sobre o tema e desta vez chama o Presidente da República ao barulho.

"Quantas pessoas foram apanhadas com a droga? Mas o Presidente sabe que houve avião que aterrou aqui, e talvez não fosse só uma vez, e que supostamente trouxe uma quantidade de droga", disse Nabiam apontando o dedo acusador ao Presidente a quem atribuiu responsabilidade pelo tráfico de droga.

"O Presidente soube também que a Polícia Judiciária (PJ) abriu o inquérito sobre o assunto. Ele é que controla a PJ, a Polícia e o serviço de informação. Sabe exatamente o que há no país, tem a ideia de quem foi receber o avião ao aeroporto e para onde a droga foi levada", acusou.

Nuno Nabiam (esq.) e Sissoco Embaló em reunião (foto de arquivo)
Nuno Nabiam (esq.) e Sissoco Embaló em reunião (foto de arquivo)Foto: Presidency of Guinea-Bissau

Acabar com a oposição

O ex-chefe do Governo acusa ainda Sissoco Embaló de ter um plano para acabar com elementos da etnia balanta, a mesma de Nabiam. Esta etnia tem uma forte presença nas forças armadas e na política do país.

"Está a orquestrar cenários para eliminar todos os políticos na Guiné-Bissau, sobretudo, aposta em eliminar elementos vistos na sociedade Balanta. Intrigou balantas com o mundo inteiro, de que são golpistas que só sabem matar e são sanguinários. Por isso é que está a conseguir verbas para criar aquilo que chama de forças anti-golpe", acusou ainda.

Nuno Nabiam, primeiro-ministro guineense entre 2020 e 2023, assumiu que a coabitação com o Presidente não foi fácil e revelou ter chegado a pensar colocar o seu lugar à disposição, mas não o fez por causa do país e dos pedidos dos aliados políticos. O também líder da APU-PDGB acusa o chefe de Estado de "egocentrismo” e de desrespeitar as instituições da República.

Nabiam criticou as suas constantes viagens "sem vantagens para o país” e quer saber quem paga as contas. O político diz mesmo ter dúvidas se o Ministério da Defesa tem conhecimento e controlo sobre a quantidade de armamento colocada no Palácio da República, uma situação que considera ser plano de Embaló para intimidar e silenciar os adversários.

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Fim do mandato de Sissoco

E sobre a intenção do Presidente da República de marcar as eleições legislativas antecipadas para 24 de novembro próximo, quase um ano depois de ter dissolvido a Assembleia Nacional Popular (ANP), Nuno Nabiam deixou um aviso: "No dia 27 de fevereiro (de 2025), à meia noite e um minuto, Umaro Sissoco Embaló não seria mais Presidente da República da Guiné-Bissau. E o povo tem de se mobilizar para lhe dizer que não seria presidente".

E nesse sentido sugere "que é preciso que todos os líderes políticos estejam cá, para dizer a Sissoco que ele não é Presidente, porque, de facto, o seu mandato vai acabar no dia 27 de fevereiro e deve anunciar as eleições residenciais”.

A DW solicitou ao gabinete do Presidente da República uma reação as acusações de Nabiam, mas não obteve resposta.

Entretanto, o analista político Mariano Pina disse que as declarações do antigo primeiro-ministro são para levar a sério e aponta a saída para a crise política: "Eu entendo que o presidente da República devia marcar as eleições gerais já em novembro ou marcar as presidenciais em novembro, para que assim que chegarmos ao fim do ano, termos um presidente que tome posse no dia 27 de fevereiro e o país continuar a sua caminhada".

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