Seca e fome ameaçam centro de Moçambique
10 de fevereiro de 2017A falta de chuva e o excesso de calor estão a ameaçar as lavouras na região central de Moçambique. A população já sofre com a escassez de alimentos. Na província da Zambézia, mais de 115 mil pessoas são afetadas pela seca, de acordo com o Governo. Caso esta situação continue, segundo dados oficiais, o número de carenciados naquela província poderá triplicar ainda no primeiro semestre deste ano.
A agricultora Marta Martinho diz que a situação é cada vez mais alarmante. "Estamos a passar mal, não houve chuva nestes últimos três anos. Está ficando cada vez pior. Sou idosa e nunca vi algo assim. Este ano está ainda pior cá em Quelimane", relata.
Com a ameaça de fome, devido à baixa produção agrícola, dezenas de pessoas, na região de Maquival, recorrem a médicos tradicionais para tentar que a chuva caia.
Os moradores contam que, além da seca, há falta de comida e muitos alunos já começaram a abandonar a escola em Maquival. "Estamos mal. Vivíamos de batata e mangas. As mangas já terminaram, não sabemos o que vamos fazer", conta à DW África Emílio Paulo, morador da região. "Não temos nada, mesmo!"
"Não temos nada para comer"
Com a seca, as lavouras estão improdutivas, segundo os agricultores. Juleca Arune diz que o mesmo problema ocorreu no ano passado.
"Não há humidade nas machambas. Lançámos as sementes de arroz por duas vezes, mas mesmo assim não germinou. Não sabemos o que vamos fazer este ano. No ano passado também foi assim, não há nada que se possa esperar, a época da sementeira já passou, não temos nada para comer", relata.
No entanto, outro camponês, Laurindo Mpala, tem esperanças que a chuva volte a cair. "Vou continuar a cultivar, mesmo que a terra esteja seca. Não posso parar, a agricultura é minha única atividade. Caso abandone o cultivo da terra, não terei nada que fazer em casa. Prefiro estar cá para me divertir", pondera.
Ajuda às vítimas da seca
Segundo o Governo moçambicano, desde 2016, pelo menos 115,7 mil pessoas foram fortemente afetadas pela fome na província da Zambézia. Paulo Tomas, do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades da Zambézia, garante que as autoridades estão a trabalhar junto das comunidades.
"Estamos a apoiar estas vítimas que estão em situação muito difícil, dando arroz e feijão manteiga. Tenho informações de que nos próximos dias a cooperação chinesa vai doar mais arroz, que chegará também a essas pessoas carenciadas", assegura Tomas.
O cenário é completamente diferente de outras regiões do país. Nas províncias de Inhambane e Gaza, no sul, devido às cheias, centenas de pessoas estão desalojadas, habitações e campos agrícolas foram destruídos.