ONU pede "contenção" ao Governo congolês
2 de janeiro de 2018Num comunicado divulgado por um porta-voz em Nova Iorque, António Guterres apelou "ao governo e às forças nacionais de segurança para que deem provas de contenção e para que respeitem os direitos do povo congolês no que diz respeito à liberdade de expressão e [ao direito] de se manifestar pacificamente".
Pelo menos oito pessoas morreram no domingo (31.12) e uma centena de outras foram detidas na sequência de manifestações de católicos contra a permanência no poder do Presidente Joseph Kabila, que na mensagem de Ano Novo dirigida aos congoleses foi omisso quanto à sua eventual saída da Presidência.
Kabila assegurou que a publicação do calendário de atividade política na RDC - que prevê a realização de presidenciais a 23 de dezembro de 2018 - "conduz de forma irreversível à organização de eleições".
No entanto, os católicos congoleses manifestaram-se no domingo porque um acordo - assinado há um ano sob a égide dos bispos locais - previa a realização de eleições no final deste ano, com vista à saída de Kabila, cujo mandato terminou em dezembro de 2016.
O Presidente não referiu o acordo político, mas abordou a questão das manifestações, apelando para a "vigilância" para "bloquear o caminho de todos aqueles que desde há muitos anos se servem do pretexto das eleições, e que hoje se sentem tentados a recorrer à violência para interromper o processo democrático em curso e fazer com que o país mergulhe no desconhecido".
Respeitar acordo político
Na sua nota, Guterres foi explícito quanto a esta questão: o Governo da RDC deveria estar empenhado em respeitar o acordo com os bispos e realizar eleições. O secretário-geral da ONU "exortou todos os atores políticos congoleses a que continuem plenamente empenhados na aplicação do Acordo Político de 31 de dezembro de 2016, que continua a ser o único caminho viável, antes de eleições, para uma alternância pacífica do poder e para a consolidação da estabilidade na República Democrática do Congo".
A polícia congolesa deu conta de três civis mortos em Kinshasa, enquanto o governo anunciou que um polícia foi morto na capital. As forças de segurança congolesas dispersaram - inclusivamente usando gás lacrimogéneo - grupos de pessoas que pretendiam manifestar-se contra o poder.
Em Kananga, na região do Kasaï (centro), um homem foi morto a tiro por militares que abriram fogo sobre os católicos, que marchavam contra o Presidente Kabila.
Além do aparato policial e militar nas ruas, as autoridades cortaram ruas e também o acesso à Internet, numa tentativa de sufocar os protestos e as "marchas pacíficas" contra o chefe de Estado. Kabila está no poder desde janeiro de 2001, após o assassínio do seu pai, Laurent-Désiré Kabila, em plena guerra civil no país.