OPEP sem acordo e crise do petróleo sem fim à vista
3 de junho de 2016Reunidos em Viena ontem (02.06), os países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) não conseguiram chegar a um acordo para estabelecer um teto para a produção e estabilizar os preços do crude. A proposta da Arábia Saudita foi rejeitada pelo Irão, que se opõe a quaisquer tentativas das nações produtoras de petróleo para travar o excesso de produção global.
Os representantes do país consideram que deveria ser permitido aumentar a produção para níveis anteriores à imposição de sanções (entretanto levantadas) pelo Ocidente, em resposta ao programa nuclear iraniano.
Ainda assim, Abdalá El Badri, secretário-geral da OPEP, garantiu na quinta-feira (02.06.) que o mercado petrolífero se está a equilibrar e que os preços devem ser fixados pela oferta e procura. No entanto, considera “bastante difícil” apontar um número para o atual limite de produção.
“Não é segredo nenhum que o Irão quer produzir nas quantidades pré-sanções e temos outro país que está fora do mercado, a Líbia”, afirma El Badri. “Por isso, apontar um número é muito difícil. Mas neste, momento, aquilo que estamos a produzir é razoável para o mercado, o preço está a melhorar. O ambiente é positivo.”
Apesar do fracasso em chegar a um acordo para o limite da produção, o porta-voz da OPEP, Hasan Hafidh, garante que “há um compromisso para garantir um mercado de petróleo estável e equilibrado a longo prazo, tanto para os produtores como consumidores”.
Hafidh não destaca a possibilidade de um novo encontro dos países membros da OPEP. “O secretariado da organização vai continuar a acompanhar os desenvolvimentos nos próximos meses e, se necessário, recomendar aos países membros um novo encontro e novas medidas”, afirmou o porta-voz.
Queda dos preços afeta gravemente países produtores, como Angola
O excesso de produção face à procura de petróleo contribuiu para vários meses de queda dos preços de crude, situação agravada pelo fim do embargo ao Irão.
Recentemente, a cotação subiu e o preço do barril de crude ronda, atualmente, os 50 dólares.
A falta de um consenso quanto à necessidade de regular o preço e a oferta de crude no final do encontro de quinta-feira levou a uma queda imediata nos mercados energéticos.
Para muitos dos países produtores, como é o caso de Angola, o preço atual não é suficiente. Desde o final de 2014 que o país enfrenta uma grave crise financeira e económica, provocada pela quebra de receitas com a exportação de petróleo.
Tendo em conta os impactos que a descida do preço da matéria prima teve em Angola, o ministro do Petróleo, José Botelho de Vasconcelos, não hesita em responder que “sim”, quando questionado sobre a vontade de que os preços subam. “No nosso país precisamos de um bom nível de preços. 50 dólares não é mau, mas precisamos de mais”, justificou.
E Angola precisa de muito mais, na opinião dos observadores. Consultoras, especialistas e economistas já deixaram o alerta: a estratégia da OPEP de manter a produção sem cortes vai fazer com que Angola continue a vender crude abaixo do preço necessário para poder equilibrar as contas.
Alves da Rocha, diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica de Angola, defende que o país precisa que o barril de petróleo custe 80 dólares, para repor o equílibrio macroeconómico.
Dada a grave crise financeira que o país atravessa, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, já teve de requerer ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI), cuja missão já está em Luanda. O grupo de trabalho mantém reuniões para negociar o Programa de Financiamento Ampliado solicitado pelo Governo angolano para diversificar a economia nacional, de modo a dimininuir a dependência do petróleo.
Nigéria enfrenta crise de combustíveis
A Nigéria é o maior produtor de petróleo em África, mas as suas dificuldades em refinar a matéria prima fazem com que esteja muito dependente da importação. Isto está a consumir as reservas cambiais nigerianas, cada vez mais escassas devido à queda dos preços do petróleo.
O país atravessa uma grave crise económica e, com 170 milhões de habitantes, a Nigéria deverá verificar um crescimento económico de apenas 2%, com a inflação a manter-se perto dos 14%.
A ministra das Finanças, Kemi Adeosun, diz que o principal problema do país é a falta de diversidade na economia e que é preciso alterar urgentemente essa situação. “Quero poder dizer, daqui a alguns anos, que o preço do petróleo já não nos interessa. O que a OPEP faz também não. Nós queremos uma economia que não seja dependente do petróleo”, afirma a ministra.
Sucessivos governos têm prometido focar-se nas potencialidades do país, em setores como a indústria e a agricultura, para reduzir as importações, mas sem sucesso. O Presidente Muhammadu Buhari pretende mudar isso.
“A Nigéria importa praticamente tudo, do arroz à pasta dentífrica. Mas quando não temos dinheiro suficiente para importar tudo, porque devemos desvalorizar a nossa moeda?”, questiona Buhari.
Queda da naira agrava crise
Com a queda da naira face ao dólar, muitos analistas apelam a uma desvalorização da moeda nigeriana. As empresas queixam-se que o Banco Central não quer disponibilizar divisas para a importação de bens de primeira necessidade, mas o Governo tem receio de que as reservas sejam usadas muito rapidamente.
O preço da gasolina subiu em 70% depois do corte dos subsídios, uma situação que afetou muitos nigerianos. Atos de sabotagem contra oleodutos e instalações de produção no sul do país fizeram a produção cair para cerca de 1,6 milhões de barris por dia. É o valor mais baixo desde meados da década de 90, mas o Orçamento do Estado da Nigéria baseia-se na produção de 2,2 milhões de barris por dia.
Não há uma solução rápida para problemas tão complexos. O país está em choque com a queda do preço do petróleo. “Este choque não é de curto prazo, ele vai continuar. Portanto, as consequências serão sentidas por um longo período. E, por isso, são necessários ajustes globais e coerentes”, afirma Gene Leon, do FMI.