Opinião: Violência traz benefício nas urnas em Moçambique – infelizmente
25 de outubro de 2014Depois das últimas eleições de 2009, Afonso Dhlakama esteve marginalizado na política moçambicana. Poucos moçambicanos ainda contaram com a RENAMO como uma alternativa séria à FRELIMO, o partido todo poderoso no Governo. No discurso de Dhlakama faltaram idéias políticas claras, o seu autoritarismo como líder partidário afastou muitos militantes, a organização da própria RENAMO precisava urgentemente de uma modernização. Muitos moçambicanos sentiram-se alienados pelas repetidas ameaças de uma nova guerra e do “vou voltar ao mato”.
No ano passado, Dhlakama colocou na prática as suas ameaças e começou um conflito armado contra a Polícia, as Forças Armadas e o Governo. Até o acordo de paz de agosto, pelo menos 54 pessoas morreram, segundo os cálculos da DW África. Entre eles civis, que foram mortos por homens da RENAMO quando viajavam pacificamente pelo país.
Mas Dhlakama parece ter encontrado o tom certo com o seu protesto contra o poder da FRELIMO e contra o enriquecimento de poucos com os recursos naturais do país. Dhlakama atraiu massas durante a campanha. O conflito armado não pareceu ser um tema incômodo. Nas urnas conseguiu aproximadamente duplicar os votos em comparação com as últimas eleições, como indicam as projeções.
RENAMO manteve MDM à distância
Não parece ser o suficiente para impedir uma vitória da FRELIMO, mas Dhlakama conseguiu manter a terceira força do país, o MDM, à distância. Um partido que apostou nos últimos anos em mecanismos civis de resolução de conflitos e que não usou violência como meio para atingir os seus fins.
Nestas eleições, o MDM ficou longe do seu bom resultado nas eleições autárquicas do ano passado, onde a RENAMO não concorreu.
Que a violência da RENAMO trouxe votos é uma mensagem fatal para mim. O sucesso aparente do conflito armado, que permitiu Dhlakama projetar-se de novo na cena nacional, vai fortalecer a sua retórica bélica.
Faltam mecanismos para superar os traumas provocados pelos conflitos armados
Mas como o Acordo Geral de Paz de 1992 não instituiu nenhuma comissão de verdade e acolhimento, o segundo Acordo de Paz deste ano, não traz novamente nenhum mecanismo para superar os traumas provocados pelo conflito. Antes pelo contrário, uma amnistia não permite processar ninguém pelos crimes cometidos durante o conflito.
O risco é grande que se repita um cenário como o pós-eleições de 1999. Nestas eleições marcadas por denúncias de graves irregularidades, Dhlakama perdeu por uma margem pequena. Nos distúrbios que se seguiram, mais de 40 pessoas morreram.
Nestas eleições de 15 de outubro também houve uma série de irregularidades. Principalmente nas províncias consideradas bastiões da oposição como Nampula, Zambézia e Sofala. Registos eleitorais em falta, assembleias de voto que só abriram à tarde e enchimento de urnas. Vários cortes de energia elétrica na noite eleitoral só aumentaram o nervosismo da oposição.
RENAMO e FRELIMO têm que mudar
Agora, ambas as partes têm que fazer o seu trabalho de casa. Dhlakama devia abdicar definitivamente de qualquer tipo de soluções violentas de conflitos. Mesmo com o anuncio da RENAMO de que não vai aceitar o resultado destas eleições devido às irregularidades, o partido deve manter a paz.
A FRELIMO tem que cumprir a sua parte para que a violência não encontre um solo fértil para crescer. Todas as irregularidades no processo eleitoral devem ser esclarecidas. Os líderes da FRELIMO deveriam deixar de acumular as fortunas pessoais com o “boom“ económico devido aos recursos naturais. E o partido tem que aprender que o Estado é uma entidade pública e não um bem privado da FRELIMO.
Se isto acontecer, as eleições de 2014 talvez possam ser consideradas no futuro como um passo para um futuro democrático e pacífico em Moçambique.