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Países asiáticos investem na agricultura de exportação em África

3 de junho de 2011

Urbanização, crescimento populacional e transformações no ambiente têm levado países asiáticos a investir na agricultura em África. Além da China, outros países como Bangladesh começaram a trilhar o mesmo caminho.

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Na imagem, um ugandês a trabalhar a terra. Com a nova prática, algumas organizações internacionais receiam danos para os africanos, como por exemplo a expropriação de terras
Na imagem, um ugandês a trabalhar a terra. Com a nova prática, algumas organizações internacionais receiam danos para os africanos, como por exemplo a expropriação de terrasFoto: DW/Helle Jeppesen

Bangladesh tem assinado acordos no setor da agricultura em alguns países africanos, entre eles o Uganda. O acordo prevê o cultivo de arroz numa área equivalente a 10 mil campos de futebol. O investimento pretende criar 25 mil empregos, a maioria para mão de obra local. A produção anual deve chegar a 31 milhões de dólares.

Abdul Matlub Ahmad, presidente do grupo de investimentos Nitol-Niloy, vê nos acordos uma oportunidade para países pobres na África garantirem a segurança alimentar. Ahmad diz que esta é a primeira vez que o governo de Bangladesh autoriza os seus cidadãos a investirem no exterior – e alerta que as plantações de arroz são só o começo: “Assim que resolvermos o problema do arroz, buscaremos garantir o fornecimento de algodão", estima Ahmad.

O algodão está na lista do Bangladesh de investimentos em África. A indústria de vestuário é vital na Ásia
O algodão está na lista do Bangladesh de investimentos em África. A indústria de vestuário é vital na ÁsiaFoto: AP

Bangladesh também procura soluções para necessidades internas

De acordo com o presidente do Nitol-Niloy, a indústria de vestuário é muito importante no Bangladesh, e por isso ela precisa de muitos fios. Ainda existe um terceiro produto que canalizará investimentos deste país, enumera Ahmad: "Nós temos uma população de 160 milhões de habitantes, precisamos de muito açúcar.”

No acordo firmado com o Uganda, o Bangladesh não vai comprar ou alugar a terra, vai apenas cultivá-la. Ahmad disse que 20% do arroz serão dados ao país anfitrião, e 80% serão levados para o Bangladesh.

Com a fome que assola o vasto continente africano, acordos como este parecem promissores. Mas segundo Roman Heere, da organização alemã para o direito à alimentação, o mais comum nesse tipo de negócio é piorar a situação dos países que acolhem os investidores. Além dos abusos de direitos humanos, como a expropriação de terras, ele vê perigo a longo prazo para os países africanos: "Quando vastas áreas cultiváveis são tomadas dos agricultores locais, o perigo é que a sua dependência na importação de alimentos só aumente”, argumenta Heere

A grande questão agora é garantir que a população em África tenha alimentos, quando em simultâneo se produz para exportação neste tipo de investimentos
A grande questão agora é garantir que a população em África tenha alimentos, quando em simultâneo se produz para exportação neste tipo de investimentosFoto: Slow Food/Stefan Abtmeyer

Consumo versus exportação

Considerando que 43 dos 54 países em África já dependem seriamente de importações para garantir o abastecimento de alimentos, a tendência seria que os países africanos ficassem cada vez mais vulneráveis a crises internacionais, como a de 2008, que afetou o preço dos alimentos no mercado internacional.

A apropriação de terras não afeta apenas o direito das pessoas à propriedade, mas também o seu acesso a água. Diante da pressão demográfica e das mudanças climáticas, os países precisarão pensar em soluções para assegurar o abastecimento de energia e de alimentos. No entanto, especialistas alertam que acordos de apropriação de terra precisam ser assinados de forma mais transparente e responsável.

Autora: Francis França
Revisão: Nádia Issufo/Renate Krieger