'Colonialismo amarelo'?
7 de janeiro de 2010Há anos, a China investe em diversos países africanos, sem levar em conta a situação política no país, problemas de direitos humanos ou condições de trabalho, condenam os críticos, especialmente os representantes de países ocidentais, tidos até agora como os maiores investidores no continente. Entretanto, na África, o engajamento da China é mais do que bem-vindo.
Só em 2008, a China investiu cerca de 26 bilhões de dólares na África. E os africanos consideram o dinheiro chinês uma ajuda bem-vinda. "Precisamos de 48 a 49 bilhões de dólares por ano para a expansão de nossa infraestrutura. E sem ela, não podemos oferecer ao setor privado as condições que desejam para realizar investimentos", afirma a economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, diretora administrativa do Banco Mundial.
Prioridade é infraestrutura
"Nosso principal investimento é destinado à infraestrutura. Estradas, portos, casas. Essa é a base para que os países africanos desenvolvam as suas economias", diz Shao Wei Jian, adido econômico na embaixada chinesa no Quênia.
Mas isso não é tudo. Os produtos chineses estão inundando o continente africano. Eletrodomésticos, ferramentas, até mesmo as onipresentes camisetas de manga curta e sandálias de plástico são "made in China". E isso está prejudicando, entre outras, a indústria têxtil no sul da África, reclama o empresário Chris Mutongo, dono de uma tecelaria na Zâmbia. "Os produtos chineses são muito baratos. Muitas vezes me pergunto como eles podem ser mais baratos do que os nossos produtos."
Colonialistas amarelos
Os críticos chamam os chineses de colonialistas amarelos. Eles entregam produtos manufaturados, enquanto a África sacia a fome de matérias-primas de uma economia em crescimento cada vez mais rápido. A China importa grandes quantidades de petróleo, cobre, minério e diamantes.
Philip Idre, ex-embaixador de Uganda na China, argumenta que não há exploração. "Todos os países estão interessados em ter acesso a matérias-primas. Atualmente, os Estados Unidos compram a maior parte do petróleo e dos minerais na África. Eu não sei de onde vem esse medo de que os chineses possam acabar sozinhos com todas as reservas", diz o diplomata.
O volume de comércio entre a África e a China aumentou mais de dez vezes desde a virada do milênio, atingindo mais de 100 bilhões de dólares. Shao Wei Jian afirma que o intercâmbio é lucrativo para ambas as partes. "Trazemos nossa tecnologia e educamos a população local. Então, ela pode explorar seus próprios recursos."
Baixos salários e segurança precária
Os trabalhadores africanos reclamam de baixos salários e normas de segurança insuficientes. Os governos do continente, entretanto, estão satisfeitos.
Pequim é generosa com ajuda ao desenvolvimento, créditos e perdão de dívidas, e promete ainda limitar seu superávit comercial. E um concorrente a mais na disputa pelas riquezas africanas fortalece o poder de barganha do continente. O especialista queniano em China Firoze Manji classifica as preocupações do Ocidente como uma hipocrisia. "Vocês pregam a livre economia de mercado e quando começam a perder o jogo, começam a chorar. É lamentável", considera.
Autora: Linda Staude (md)
Revisão: Augusto Valente