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Partido CASA transforma cenário político em Angola

20 de março de 2012

A mais nova formação política de Angola anunciou, nesta terça-feira, o seu primeiro congresso. A CASA, Convergência Ampla para a Salvação de Angola, torna a política angolana mais ativa, revela analista.

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Fundação do partido CASA, Convergência Ampla para a Salvação de Angola
Fundação do partido CASA, Convergência Ampla para a Salvação de AngolaFoto: DW / Vieira

A CASA, Convergência Ampla para a Salvação de Angola, foi fundada recentemente por dissidentes da UNITA, o maior partido da oposição no país. A liderar a CASA está Abel Chivukuvuku, ex-membro sénior da UNITA. De lembrar que estas mudanças políticas acontecem a menos de cinco meses das eleições gerais. Em entrevista à DW África, o investigador angolano Nelson Pestana faz uma análise das circunstâncias do surgimento da CASA e do novo cenário político que se configura em Angola.

A CASA, Convergência Ampla para a Salvação de Angola, anunciou, nesta terça-feira, o seu primeiro congresso (na imagem: fundação do partido)
A CASA, Convergência Ampla para a Salvação de Angola, anunciou, nesta terça-feira, o seu primeiro congresso (na imagem: fundação do partido)Foto: DW / Vieira

DW África: Irá esta fragmentação da oposição angolana beneficiar o partido no poder, MPLA?

Nelson Pestana: Não creio que o MPLA possa beneficiar do facto de um grupo de pessoas ter saído da UNITA e com outras pessoas e outras formações políticas ter constituído a CASA. Acho que não tem necessariamente que beneficiar, na medida em que o eleitorado do MPLA não é necessariamente o eleitorado da CASA.

Por outro lado, um provável enfraquecimento da UNITA não beneficia diretamente o MPLA. A CASA vai procurar um eleitorado que, sendo originariamente da UNITA, estava descontente e que, por este motivo, provavelmente iria votar numa outra formação política que seguramente não era o MPLA.

Isaías Samakuva, presidente da UNITA. Partido desfalcado?
Isaías Samakuva, presidente da UNITA. Partido desfalcado?Foto: DW

DW África: Como fica a UNITA, agora desfalcada e com a formação da CASA? Afinal, foram membros seniores do partido que criaram a CASA.

NP: É verdade que são quadros muito importantes, mas que estavam numa situação de exílio interno na UNITA e, por isso, acho que o país ganha com a formação da CASA - na medida em que permite devolver à política ativa esses quadros que as pessoas reconhecem como importantes. Por isso, do meu ponto de vista, em termos de representatividade e de uma procura de qualidade do político, o país acaba por ganhar com a formação da CASA.

DW África: Esta cisão da UNITA, quando as eleições estão quase à porta, tem um significado particular?

NP: Era já uma saída anunciada, porque no interior da UNITA fecharam todas as portas à possibilidade de coexistência desse conjunto de pessoas na UNITA perfeitamente inativas. A UNITA hoje é dominada pelo presidente [Isaías] Samakuva, que tem uma tendência cada vez mais concentradora do poder. Por isso, o Abel Chivukuvuku e o grupo de pessoas que o seguiu contavam já muito pouco no interior da UNITA.

Abel Chivukuvuku, ex-membro da UNITA e líder da CASA, almeja a presidência do seu país
Abel Chivukuvuku, ex-membro da UNITA e líder da CASA, almeja a presidência do seu paísFoto: DW / Vieira

DW África: Face ao surgimento da CASA e à existência de muitos partidos em Angola, pode-se dizer que a oposição está fragmentada?

NP: Todas as oposições são fragmentadas. Nós temos a tendência de falar em oposição, mas a verdade é que na realidade são sempre oposições. Aqui, como há uma tradição de partido único, a tendência é transformar a oposição também numa oposição de partido único. Uma espécie de que o ideal para estes países era uma bipolarização.

A fragmentação orgânica da oposição não impede a concentração em plataformas políticas comuns para se atingirem objetivos comuns. Não impede também que cada um carregue o seu peso político nas eleições e depois, no pós eleitoral, se venham a formar coligações governamentais. Isso acontece nos outros países, porque não há de acontecer em Angola?

Não acho que o facto de haver vários partidos políticos seja sinónimo de fragilidade da oposição. Agora, é preciso perceber o que é oposição e o que são partidos políticos que apoiam a coligação presidencial, mas que se continuam a designar oposição só porque não fazem parte do partido único.

Autora: Nádia Issufo
Edição: Cris Vieira / Renate Krieger