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Pepetela vê Abel Chivukuvuku como ameaça para João Lourenço

7 de maio de 2021

Abel Chivukuvuku pode ser um candidato com perfil para defrontar João Lourenço nas eleições de 2022, entende Pepetela. Quanto à Isabel dos Santos, o escritor não acredita na sua entrada na corrida eleitoral.

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João Lourenço (esq.), Presidente de Angola, e Abel Chivukuvuku, coordenador do movimento PRA-JA Servir Angola

Em entrevista conjunta à DW África e à Agência Lusa, o escritor angolano Pepetela afirma que a corrupção é uma das pragas mais difíceis de combater em Angola, apesar do anunciado empenho da governação do Presidente João Lourenço.

Entende que a luta contra o fenómeno constitui uma "experiência nova" para a qual o país não tinha estruturas e quadros devidamente preparados.  

Autor Artur Pestana Pepetela
Pepetela, escritor angolanoFoto: DW/A. Pacheco

"É preciso formar muita gente. Há muitas coisas a mudar certamente. Essas questões são extremamente complexas. Exigem muita experiência financeira. E o próprio Estado não estava preparado para encetar uma luta de tão grande dimensão. Vai demorar muito tempo", diz Pepetela. 

Falando de eleições gerais, o escritor acha que a conjuntura atual, marcada pela situação pandémica, poderá dificultar a ida às urnas. Admite que talvez em novembro de 2022 já haja condições para as realizar.

Nome de Chivukuvuku "está em todas as cabeças"

Pepetela tem, entretanto, alguma dúvida se o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), ganhará com uma maioria folgada como aconteceu no passado: "O que eu posso dizer é que talvez ganhe, mas não vai ganhar com a margem que ganhou antes. Vai se aproximar já muito do empate."

Entre os potenciais candidatos à Presidência, que poderão desafiar João Lourenço, Pepetela aponta o nome do político angolano Abel Chivukuvuku como elegível. 

"É um nome que está em todas as cabeças. Como é que isso vai ser resolvido? Eis a questão, porque é um bom candidato, tem apoio, sobretudo [porque] consegue movimentar bastante a juventude", considera Pepetela.  

O escritor pensa que isso pode ser uma ameaça para João Lourenço.

Angola Luanda Wahlen
Angola deve realizar eleições gerais em 2022Foto: DW/A. Cascais

Sobre uma eventual candidatura de Isabel dos Santos, que já tinha manifestado essa intenção bem antes de se conhecer os escândalos financeiros envolvendo o seu nome, mostra-se duvidoso: "Não acredito muito [nisso]. Primeiro, porque ela nunca teve atividade política. Em princípio não tem experiência para isso e nem acredito muito que ela tenha esse desejo. Não sei. Não penso que fosse um candidato 'viável' para confrontar diretamente João Lourenço. Não me parece."

"Sempre houve municípios em que o MPLA não ganhou"

Em relação às autárquicas, Pepetela também tem dúvidas, não se sabendo se a indefinição em relação ao calendário tem a ver com eventuais receios do partido no poder vir a perder votos a nível dos municípios. E diz o seguinte: "O que o MPLA pensa não sei. Francamente, estou completamente desligado, não faço a mínima ideia".

"Mas sempre houve municípios em que o MPLA não ganhou, mesmo quando ganhava a 70% a nível nacional".  

Acredita, portanto, que haverá municípios em que a oposição, provavelmente a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), se apresentará com mais possibilidades de vitória. Embora seja difícil de se prever neste momento o que vai acontecer, Pepetela também admite que poderá haver surpresas nos próximos atos eleitorais, tendo em conta as movimentações em curso no seio da oposição. 

O escritor, que lutou junto do MPLA para a libertação de Angola, considera que "o programa do MPLA - aquele que foi apresentado na altura da tomada de posse do Presidente [João Lourenço] para cinco anos - certamente não será cumprido. É impossível". 

Já em "Geração da Utopia", o escritor mostrara a desilusão existente em Angola depois da independência, em 1975. 

Angolanischer Schriftsteller Pepetela
Pepetela no CCB no dia de entrega do Prémio DST AngolaFoto: João Carlos/DW

Pepetela premiado

Pepetela, ou Artur Carlos Pestana, galardoado em 1997 com o Prémio Camões, falou à DW e à Agência Lusa, à margem de um evento esta semana para assinalar o Dia da Língua Portuguesa, durante o qual também recebeu o Prémio de Literatura DST Angola, distinguido pela sua mais recente obra "Sua Excelência, de Corpo Presente" (2018). 

O escritor diz que o prémio entregue na quarta-feira (05.05) em Lisboa pelo primeiro-ministro português António Costa contribuiu para melhorar o seu vasto currículo, mas sublinha sobretudo a sua particularidade por ter sido criado por uma empresa privada portuguesa que atua em Angola no plano cultural. 

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