Falta de consenso domina política guineense
21 de dezembro de 2017Na reunião desta quinta-feira (21.12.) esteve em cima da mesa a discussão de um roteiro que o chefe do Estado guineense, José Mário Vaz, desenhou para a saída da crise política que assola o país há mais de dois anos, que levará à implementação do Acordo de Conacri, instrumento patrocinado pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) com o qual se pretende acabar com a crise na Guiné-Bissau.
Mas, os líderes políticos guineenses não se entenderam hoje quanto à proposta de saída da crise política, com uns a criticarem as soluções avançadas pelo chefe do Estado e outros a defenderem-nas.
À saída do encontro dos cinco partidos representados no Parlamento, o grupo dos 15 deputados expulsos do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), na presença de elementos da sociedade civil e comunidade internacional, foram visíveis as divergências.A direção do Parlamento também foi representada na audiência, através do primeiro vice-presidente do órgão, Inácio Correia.
Roteiro para a saída da crise?
Os líderes dos partidos PAIGC, Domingos Simões Pereira, do Partido da Convergência Democrática (PCD), Vicente Fernandes, do Partido da Nova Democracia (PND), Iaia Djaló e Agnelo Regala da União para Mudança (UM), foram taxativos nas suas declarações aos jornalistas em como mostraram a José Mário Vaz o seu desacordo com o roteiro.
Afirmam que o documento é contrário ao espírito do Acordo de Conacri, instrumento patrocinado pelos líderes da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) para saída da crise na Guiné-Bissau.No essencial, o acordo prevê a nomeação de um primeiro-ministro de consenso dos partidos representados no Parlamento e a confiança do Presidente guineense.
Os quatro partidos contrários ao roteiro de José Mário Vaz não reconhecem o atual Governo liderado pelo primeiro-ministro, Umaro Sissoco Embaló.
Acordo de Conacri deve ser cumprido
Para Domingos Simões pereira, líder do PAIGC partido vencedor das últimas eleições, mas vedado ao poder diz que não deve haver outro roteiro que não seja o acordo de Conacri. "Nada de especial, ouvimos uma retórica de apresentações que não tem nenhum enquadramento com aquilo que é o Acordo de Conacri e limitamo-nos a lembrar ao senhor Presidente da República que o nosso engajamento é com o acordo e não pode haver roteiro de implementação que contraria o próprio acordo. O PAIGC não reconhece nenhum roteiro que vise essa implementação. O próprio acordo de Conacri já estabelece um roteiro. Seria completamente inusitado evocar um roteiro para implementar um roteiro".
Mesma opinião tem o líder do Partido da Nova Democracia (PND), Iaia djaló. "O Acordo de Conacri não passa de um roteiro. O acordo de Bissau é um princípio que levou os políticos a Conacri, daí elaborou-se um acordo. Este documento reflete exatamente um roteiro. Isso que o Presidente nos propõe, não concordamos".
Por seu turno, o líder do Partido da Convergência Democrática (PCD), Vicente Fernandes diz que a proposta do chefe de Estado, foi mais um dito por não dito. "Perante o que assistimos agora, é o Presidente a dar mais uma vez o dito por não dito. Pensamos que isso não passa de mais uma brincadeira do Presidente da República. Uma tentativa para corresponder com o seu programa político tendente a manter o país tal como está. Estamos pouco otimistas quanto ao cumprimento do Acordo de Conacri que é a única saída para a crise na Guiné-Bissau". Também Agnelo Regala, líder da União para a Mudança (UM) apontou "o cumprimento integral do Acordo de Conacri como a solução para crise". Já Inácio correia, primeiro vice-Presidente do Parlamento garante que é impossível a retoma das sessões parlamentares com um Governo ilegítimo. "Pedimos ao Presidente da República que cumpra o acordo de Conacri, que passa necessariamente pela exoneração do primeiro-ministro e a nomeação do novo, porque Assembleia não pode caucionar um Governo inconstitucional".
Jorge Gomes, da sociedade civil defende a implementação do Acordo de Conacri com vista a minimizar o sofrimento do povo guineense. "Achamos que o Presidente da República deve comprir na íntegra o Acordo de Conacri, porque foi rubricado pelos partidos políticos e o Parlamento. Portanto, este novo roteiro, vai dilatar os prazos, numa altura em que a polução já está cansada e o país precisa sair da situação em que se encontra".
Do outro lado, o coordenador do grupo dos 15 deputados expulsos do PAIGC, Braima Camará e o representante do Partido da Renovação Social (PRS), Certório Biote, concordaram com o documento e dizem ser "único caminho" para "se acabar, de forma definitiva" com a crise no país.
Recorde-se, que na quarta-feira (20.12.), o Presidente guineense reuniu-se com o mesmo propósito com os partidos sem representação no Parlamento, as confissões religiosas e os líderes tradicionais.